O JAÚ QUE FLUTUAVA LEVE NO CÉU DE ESPOLETA

Sempre achei o entardecer a hora mais romântica do dia, sou capaz de ficar ali,

quieta, perdida , encantada, olhando o dia morrer...

Parece mágica, ainda mais quando é época que a criançada num sentido telepático,

começam a soltar suas pipas colorindo o dia, mais provavelmente a tarde,

quando já chegaram todos da escola e a maioria já com seus trabalhos escolares feitos,

outros que deixam para o dia seguinte...

O céu fica pintadinho de todas as cores e me vem na memória uma história,

só mais uma história de "Espoleta".

Como ela gostava de soltar papagaio!!!!

Isso mesmo, papagaio, que hoje conhecemos como pipa, mas naquele tempo,

lá no interior das Minas Gerais, Zona da Mata,

era esse o nome que se dava à esse brinquedo tão popular ainda hoje,

querido das crianças e adultos.

Espoleta fabricava ela mesma os seus papagaios, ela sempre achou, por ser muito elétrica,

que as brincadeiras dos meninos eram mais radicais que das meninas...

Ninguém conseguia "cortar", era assim que se chamava e ainda chama,

quando um queria pegar o papagaio adversário ainda no alto com seu papagaio,

embolava ao outro e puxava rapidamente e esse passava a ser seu...

Mas, como ia dizendo, nenhum outro moleque se atrevia a cortar os papagaios de Espoleta,

porque além de levar uns petelecos dela, ainda ia ficar sem o próprio papagaio também...

De todos que ela havia fabricado,

o que ela nunca esqueceu e que mais gostou pela obra perfeita, foi um Jaú.

Jaú era um papagaio sem rabiola e o que ela havia feito, era de dar gosto ver no alto...

Lindo! Ela o fez com papeis de sêda vermelho, azul, amarelo e verde.

ela colocou umas franjas nas pontas laterais e sua invergadura era majestosa!!!!

O Jaú flutuava leve no céu e ia tão alto que às vezes quase nem o via mais,

sabia-se que estava ainda voando por causa do peso da linha.

Em volta de Espoleta ficavam toda criançada na espectativa do retorno do Jaú

e quando ela começava a puxar a linha, podia- se ver nos rostos, semblante de suspense...

Que festa quando dava para visualizar o brinquedo querido!!!!

Que audácia uma menina levar um papagaio mais alto que os meninos!!!!!

Mas, fazer o quê??? Estou falando de Espoleta...

A noite chega de mancinho pegando-me perdida no tempo...

Ainda vejo algumas pipas voando, agora colorindo a noite,

enquanto ela não acende suas estrelas luzes e a gente poder sonhar,

olhando o céu pintadinho de luzes, agora.