Era um menino arteiro.
Desses cuja presença acende todos os alertas.
Vai quebrar, vai fazer barulho, vai cair, vai machucar, vai pregar peças.
Ele não parava nunca.
Nem quando dormia.
Resmungava, gritava, brigava, sonhando com seus sonhos.
Nada temia.
Chegou um tempo em que todos se cansaram de seus feitos.
Ninguém mais se dispunha a ser alvo de suas brincadeiras.
Ninguém lhe fazia um carinho.
Todos o evitavam.
Solitário e triste, ele cresceu.

Foi calando, ensimesmando, encolhendo.
Seu jeito de ser incomodava, diferente do modo de incomodar quando criança.
Aguçava a curiosidade de tantos quantos o conheciam.
Tentavam conversar, sem êxito.
Em que mundo estaria?
Em que pensava?
O que pretendia da vida?

Tornara-se um homem bonito.
Para sobreviver, passou a criar esculturas.
Criava bichos, móveis, estátuas, miniaturas e toda sorte de objetos.
Nada havia na natureza que ele não fosse capaz de reproduzir.
Também desenvolvia objetos abstratos.
Jamais repetia uma criação.
Nem aceitava encomendas.

Expunha em um pequeno cômodo e afixava o preço em cada peça.
Cada interessado apontava a obra que desejava comprar.
Ele embrulhava, pegava o dinheiro e entregava simplesmente.
Sua arte foi se tornando conhecida e passou a ser referência para
visitas de pessoas que vinham de longe.

Sua fama percorreu o mundo.
Seus trabalhos eram revendidos a preço de ouro.
Alguns dos mais renomados entrevistadores tentaram elaborar matérias sobre sua vida e sua obra.

Infrutíferas tentativas.

Os conterrâneos falavam, contavam, inventavam sobre ele e tinham seus cinco minutos de celebridade.

O escultor jamais se manifestava.

Até que morreu!

E calou-se para sempre!