click to zoom

QUEM IMBUCHÔ A RITINHA?
 
Todas as tardes, menos nos dias de chuva, eles se encontravam ali, na única praça da pequena cidade – quase um vilarejo. A pracinha era pequena, mas muito agradável, o retrato de uma cidade assim, onde todos se reúnem nos fins de tarde e noite quentes.
 
- Cumpádi... cumpádi Zézim! Se aprochegue, já tô aqui um tempão, hômi! Onde cê tava?
 
- Tava resorvêno uns pobrema aí na cidade, cumpádi. Tô cuma réiva qui ocê nem sabe!
 
-Mai réiva do quê, cumpádi! O quéqui tá havêno!?
 
- Ah, cumpádi Vicente. Dêxa pra lá, as coisa vão si resorvê! Óia, mi arruma aí um cadim do seu fumo purquê eu tô vêno ocê inrolá o seu pito e mi deu vontade de pitá tomem!
 
- Ara, cumpádi Zézim, ocê mi faiz o favô de trazê o seu fumo, viu?Num é a primêra vêiz quei ocê mi fila um cadim di fumo. Ói, tôme... e páia, ocê trôxe?? Intão tome, vai.
 
- Num recrâmi não, cumpádi, num recrâmi não, sô! Ocê já mi filô muito fumo, tomêm! Ta virâno unha di fômi agora, sô! Ara... Ih! Cumpádi Vicenti! Óia quem ta passânu lá na ôtra carçada – a Ritinha, sua cunhadinha! Eita, beleza di muié, meu Deus do céu!
 
- Uai, cumpádi Zézim, ocê num tá sabêno não?
 
- Sabênu do quê, cumpádi! Tô não...
 
- A Ritinha tá imbuchada, uai! Cê num sabia?
 
- Ah! Não... E quem é o disinfiliz que imbucchô ela?
 
- E eu é que sei, cumpádi? Essa minina, tem pôca idadi, mas já tá mai rodada do que nota de um mirréis, sô! Eu fico inté invergonhado pur causo de qui ela é irmã de minha muié, né! Tão falânu pur aí qui foi o purtuguêis da venda ali na isquina que fêiz essi istragu na Ritinha, sei não! Quaiz todo mundo aqui na cidadi já deu uma vortinha cum a Ritinha, né, sô. Póde sê quarqué um!
 
- Mai, cumpádi Vicente. Ela é bunita pur dimais, né não? Ispia só aquelas perna bem feitinha, aquela (cum perdão da má palavra) bundinha arribitada, qui só! Os peitim, sô. Os peitim são bunito dimais, e durim, durim! Ói, cumpádi, ocê mi discurpe purquê ela é irmã de Maria, mai eu vô te dizê uma coisa – essa Ritinha pódi sê novinha, mai ela é uma muié e tanto na cama, viu! A gente fica doidim co'as coisa qui ela faiz!
 
- Uai, cumpádi Zézim! Mai qui cunversa é essa, sô? Cumu é qui ocê sabi que a Ritinha é boa de cama, uai? Qué cocê andô aprontânu, cumpádi?! Ocê num me diga que tomêm já durmiu cum ela, hômi!
 
- Ô cumpádi Vicente, me arrume mai um cadim di fumo qui vô fazê ôtro pito. Num guento, só pitâno mêmo! Vô inrolá aqui, peraí, cumpádi! Hehehehehe....
 
- Num discunversa não, cumpádi Zézim, num discunversa não! Mi conte esse causo direitim purquê eu tô ti achâno cuma cara muito da sem vergonha e ocê chegô aqui mêi ressabiado! 

- Cumpádi, ocê num mi conte pra ninguém... Guarda segredo, pur Deus! Óia só, heim!

 
- Conto não, cumpádi, num si priocupe, conto não. Pó falá, sô!
 
- Hehehehehe... ocê matô a charada, cumpádi! Eu tomêm já durmi co’a Ritinha, num arresisti, ela é bunita dimais da conta e fica passâno na frente da gente, cum aquele rebolado, chamâno pra vadiage. Num há hômi que guente isso, né não? Foi uma vêiz só, mai valeu a pena. Ó, si valeu! Hehehehehe....
 
- Ô cumpádi Zézim.. Num vai me dizê qui ocê tomêm si inrabichô pela Ritinha. Ocê dêxi di sê sem vergonha, sô. Um hômi da sua idadi, arrumá essas increnca? Óia que o Pedro, aquele irmão mais véio dela, tá atráis de quem disgraçô a Ritinha. Vai obrigá a casá cum ela, purquê a moça é di famía e agora tá imbuchada.
 
- Peraí! Eu num tô véio não, sô! Inda tenho muita lenha pra queimá e tô dânu no côro ainda, pregunte pra Ritinha procê vê! A curpa é dela, ocê sabi que ela vévi se rebolâno pra tudo que é hômi da cidade. Ela atenta todo mundo, eu num sei cumu ocê arresisti!
 
- Eu!? Ficô doido, sô? Ritinha é minha cunhada e é uma minina ainda. Tá certo que é assanhada pur dimais, mai eu tenhu pur ela o maiô respeito. Mai ocê é doido dimais da conta de entrá nessa fria, cumpádi.
 
- I num é, sô! Inté ieu! Hehehehehe.... Todo mundo aqui já cumeu a Ritinha, mi discurpe, cumpádi! Eu sô hômi, ara!
 
- Hummmm! Cumpádi Zézim! Mi bateu uma increnca nus pensamentu aqui, sabi... Oi só. A Ritinha tá imbuchada já duns trêis méis, foi u qui a Maria me contô. Mai ninguém sabi quem qui é o pai da barriga...Intão o meu rassocíno é o siguinte! Esse fío bem pódi sê seu, né não, cumpádi? E si fô seu, ocê vai tê qui casá.. vai tê qui casá!  Cá prá nóis, cumpádi: Ocê tá é fudido - e mal pago. Hehehehe!
 

 - I num é qui pódi, cumpádi Vicenti? I num é qui pódi? Hehehe...Vô inrolá ôtro pito! Só pitâno mêmo dispois dessa, cumpádi! Hehehehe... Mai casá – eu num caso! Mai num caso mêmo, cumpadi, nem qui a vaca tussa e a pórca inrole o rabo.


NA>> Este Conto é um dos muitos "Causos" que tenho guardados e nunca havia publicado. São baseados em acontecimentos reais, fatos que presenciei ao longo de minha vida, quando ainda vivia em minha pequena cidade, no interior de Minas Gerais.