PEQUENO CONTO DE ANIVERSÁRIO-FINADO

6 de abril. Acordei. A manhã voou em meus sonhos. O turno dos passarinhos não foi capaz de me abrir meus olhos.

Meio-dia. Nenhuma lembrança. Nenhum abraço. Nenhum telefonema. Nenhuma mensagem. Nada! Almocei rapidamente e joguei meu corpo relutante no sofá. Estava de calção, sem camisa e despenteado.

Liguei a televisão. Pulei de canal em canal “devangustiosamente”. Passados alguns minutos, todos os canais disponíveis não foram suficientes. E assim, a tarde correu. No que o ponteiro marcava 12 horas, num instante já alcançava a casa dos 16 e me visto rapidamente e saio.

Estava sentado, amuado. A minha cara escorregava por entre minhas mãos pequenas e desconcertantes. O ponteiro marcava 17 horas. Reunião de trabalho. Horas de trabalho perdidas coletivamente. Novamente nenhum abraço, aperto de mão, cumprimento, lembranças ou perguntas. O final da tarde teimava em me abandonar. O que vivia duas horas levava dois séculos para morrer. Fim.

...............................................................................................

Não! Não é o final da estória ainda.

Vaguei pela cidade. Ninguém me via. As lojas não me ofereceram, pela primeira vez, nenhum crediário, nenhum desconto e nenhum juro. Nenhum vendedor, transeunte ou cidadão caçapavense direcionou-me um cumprimento.

Arrastei-me à minha casa. Parado, ao portão, revirei os meus bolsos e nada. Depois de três nuvens passadas, minha irmã chegou. “Oi”. “Hum hum”, disse, enquanto admirava as formiguinhas juntas, carregando coisas, que me lembravam pedaços de doces, enquanto resvalavam as antenas umas nas outras.

Minha irmã abriu a casa e novamente nenhum abraço, frases e apertos de mãos. Sou um morto vivo. Sou um fantasma. Hoje, meu querido Drácula, posso jogar-me ao espelho que nem as minhas rugas trairiam-me.

Subo ao meu quarto. Meu mundo. Meu reino. Aqui, sei que sou senhor do meu tempo.

Abro o livro que dantes estava lendo. Deito-me em minha cama. Meu corpo dói. Meus olhos ardem. Continuo a ler meu livro com o mesmo entusiasmo que acordei pela manhã e que carreguei nas costas e no coração durante todo o dia.

Adormeço.

O quê? O fim?

Relaxe. Vire de lado e durma.

Amanhã é dia 7 de abril.

ADAMS ALPES
Enviado por ADAMS ALPES em 02/04/2009
Reeditado em 02/04/2009
Código do texto: T1518295
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.