A guerreira que se definha!...

A guerreira que se definha!...

Foi na década de 1920, ela menina, preparava para a Primeira Comunhão, no catecismo não esquecia aquelas abençoadas palavras: perdoar sempre, amar os semelhantes, então naquele momento solene em que ia receber a 1ª Eucaristia, lembrou-se que algumas colegas tinham criticado por não estar de véu e grinalda naquele dia importante. A raiva e humilhação lhe subiu à cabeça, pois os trajes não estavam adequados porque ela era a mais pobrezinha da turma, não sendo possível ir com os trajes exigidos.

Mas naquela hora, que pra ela foi inesquecível, momento de receber pela primeira vez o Jesus Eucarístico, uma áurea de paz tomou conta de seu ser, pediu perdão em silêncio e fez a afirmação: --- que eu viva muitos anos só amando a Jesus!

Dali por diante o valor da vida espiritual foi aumentando na mente daquela criatura que apenas despertava nas complicadas explicações de viver. Os muitos desejos que no passado não se realizaram, já não a atormentavam tanto, como a vontade de continuar os estudos, interrompidos logo no 2.º ano na escola, seu pai, homem prático no dizer daquela época, tirou-a da vida escolar, simplesmente por concluir que mulher não necessitava estudar muito, ah! A vontade de continuar ler as leituras, decorar poesias muitas vezes declamadas com sucesso, também interrompidas.

Mas, entretanto, o viver tumultuado ia continuar, com seus 14 anos sua mãe arrumou-lhe um casamento, o noivo, meu pai que já era mais maduro, com seus 18 anos casou-se com minha mãe, lógico que não estava preparada nem um pouco para a vida de casada, ainda mais naqueles tempos!... Foi um verdadeiro furor, os anos foram passando, os filhos foram surgindo, dificuldades de todas espécies, inclusive a financeira, mamãe que ainda nutria grande interesse de seguir a vida religiosa, almejava ser catequista, tinha a nítida certeza de ser impossível, porque se não estudou muito, como poderia ser professora de religião?

Mantinha contato com alguns Padres, inclusive com muitos frades franciscanos, um dia relatando a um deles sua vontade, veio a resposta inesperada: ela poderia e deveria ser catequista, desde que se esforçasse com rigor no aprendizado tão divino e magnânimo. O resultado viria depois, porque era notório a sua coragem, inteligência, capacidade incrível de liderança e disponibilidade apesar do grande trabalho no lar, que nestas alturas já tinham vários descendentes.

A luta remida, avançava, muitos alunos no catecismo, muitas Primeiras Eucaristias por ela encaminhadas, muitos teatrinhos eram por ela dirigido, nesta altura já tinha adquirido bagagem suficiente naqueles trabalhos que tinha proposto fazer, tornou-se uma mestra autodidata.

Depois de muitas décadas nestes trabalhos tão gratificantes, ela foi obrigada a interromper, meu pai veio a falecer aos 51 anos. A catequista devotada, troca os trabalhos de catequese pelos trabalhos remunerados para a sustentação dos filhos menores.

E assim foi por muitos anos na labuta, até que controlada a situação volta aos trabalhos religiosos novamente, intercalando catequese, serviços na igreja, serviços em casa.

Hoje com 98 anos, a guerreira se retrai, já não está lúcida como há poucos tempos atrás,

mas a lucidez vem alternadas, palavras de fé ainda sai de seus lábios, defensora aguerrida da religião continua a ser, as lutas ainda tem muitas vitórias da minha mãe:

Maria Vitória!...