Sexo's

Fazia tempo que não tinha namorado. Fazia tempo que não tinha amantes. Em verdade estava cansada dos galanteadores de plantão que sempre a enchiam com suas cantadas sem graça, suas conversas repetitivas, suas promessas irrealizáveis, suas enfadonhas conversas de botequim, as perguntas de sempre: “Qual o seu nome? Onde você mora? Pode me dar seu telefone?”. Tinha prometido a si mesma que não sairia mais com as amigas para os points de paquera, não queria ser apresentada para mais nenhum amigo do namorado de uma amiga. Enfim, depois da enésima decepção amorosa, tinha decidido que iria abolir o sexo de sua vida por tempo indeterminado. Nada mais de namoros, nada mais de amantes. Sua vida seria apenas o trabalho, cinema, praia e viajar sozinha. Não queria saber mais de homens, nunca mais.

Fazia tempo que não tinha namorada. Estava farto das intermináveis incompreensões mútuas dos casais. Não queria mais “discutir a relação” com quem quer fosse. Tinha desistido de freqüentar os bares onde a paquera rolava solta, e tinha dito a si mesmo que sexo só faria com putas. Acreditava piamente que as mulheres eram todas prostitutas e só estavam interessadas no dinheiro e no status de seus companheiros. Havia firmado um compromisso consigo mesmo: “Sempre que sentir tesão, minha primeira providência será bater uma punheta, se isso não resolver, pago 30, 50, 100 reais a uma puta qualquer que me faça ejacular, colocar toda minha porra para fora”. Depois, empolgado com estas resoluções, fez a assinatura de uma TV a cabo, apenas para desfrutar dos canais eróticos e ter material para suas masturbações 24 horas por dia.

Fazia tempo que não tinha namorado. Mas com o passar do tempo, apesar de todas as suas sublimações, suas maravilhosas viagens solitárias para diversas partes do Brasil e do mundo, sem ninguém para encher seu saco, sem ninguém para discordar de suas decisões. Apesar de suas saídas com as amigas para cinema, tomar chopps. Apesar de puder acordar a hora que bem entendesse, assistir DVDs clássicos e ler seus livros e revistas. Apesar de toda a tranquilidade estabelecida em sua vida, algo começou a lhe inquietar. Passou a pensar em sua idade, nos seus sonhos de menina, seu instinto maternal começou a florescer com intensidade: “Puxa, já estou com trinta e dois anos. Como gostaria de ser mãe. Será que vou ficar prá titia? Meus pais vivem dizendo que querem ter um netinho. Puxa, lembro quando era menina, brincava com minhas coleguinhas de adivinhar quem iria casar primeiro, como seriam nossos vestidos de noivas”. Tais pensamentos começaram a lhe dominar obsessivamente, voltando de quando em quando, como sinais de alerta apontando para que seu tempo de realizações de sonhos estava terminando.

Fazia tempo que não tinha namorada. Tornou-se viciado em masturbação e prostitutas. Às vezes saí do trabalho correndo, louco para chegar cedo em casa e assistir ao festival de sacanagem que sua TV a cabo proporcionava. Passou a freqüentar clubes de massagens e tornou-se um consumidor entusiasta do sexo pago. Mas devagar, sem que inicialmente ele percebesse, eis que começou a ser tomado por uma angústia, que se aguçava curiosamente depois que ele ejaculava. Era como se ao se desprender de seus testículos, sua porra levasse consigo o sentido de sua existência, deixando sempre uma sensação de vazio e depressão. Passou a pensar que talvez fosse interessante uma companhia feminina não apenas para o sexo, mas também para uma conversa agradável, um passeio no final de semana, um cinema. Também vieram pensamentos lúgubres: “Caramba, já estou com 43 anos, sinto que estou envelhecendo. E se ficar doente? Quem tomará conta de mim? E na velhice? Com quem conversarei? Ficarei só?"

Um dia ela recebeu um convite de uma amiga para acompanhá-la, juntamente com o namorado e um amigo dele, em uma saída noturna, em um dos bares mais badalados da cidade.

Um dia ele recebeu um convite de um amigo para acompanhá-lo, juntamente com a namorada e uma amiga dela, em uma saída noturna, em um dos bares mais badalados da cidade.

Ela pensou: “Desta vez vou aceitar o convite. Quem sabe este amigo do namorado de minha amiga não é interessante? Vou me dar esta chance, quem sabe não é o começo de algo importante? Casamento? Filhos? Sei lá, mas vou me dar esta chance”

Ele pensou: “Porra, faz tempo que não saio com ninguém. To precisando conhecer uma mulher bonita e inteligente, que me compreenda e que seja boa de cama também. Vou me dar esta chance. Vou aceitar o convite.”

Então chegaram, quase ao mesmo momento no bar combinado, para o encontro com o casal de amigos em comum.

Ao vê-lo, o coração dela disparou, seus olhos brilharam e ela sentiu um súbito tremor pelo corpo. Disse para si mesma: “Que homem belo e interessante. Quero conhecê-lo de fato. Mas hoje não dou para ele, quero, preciso conhecer este homem”.

Ao vê-la teve uma súbita ereção. Pensou: ‘Puta que pariu, que mulher gostosa da porra. Vou comê-la de qualquer jeito. Esta não me escapa”.

Sentaram-se à mesa e foram formalmente apresentados.

Mas aí, no instante em que começaram a conversar, olhando olho no olho, trocando idéias e comentários sobre si mesmos, já não mais se viam, já não mais se escutavam. Estavam apenas inebriados com suas respectivas construções imaginárias. Ela encantada com aquele homem belo e gentil, pensando que afinal de contas poderia se dar uma chance a si mesma, viu naquele homem a possibilidade de um relacionamento sério. E, quem sabe, casamento e filhos. Ele tomado de tesão por aquela mulher deliciosamente curvilínea, imaginando como seriam as formas arredondadas de seus glúteos, quando os livrasse daquele sedutor vestido negro que lhe cobria a nudez.

Marcio de Souza
Enviado por Marcio de Souza em 23/04/2009
Reeditado em 07/01/2011
Código do texto: T1555620
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