MARIA A DOIDA ...

- Olhem! Olhem! Lá vai a Maria Doida!
Alertavam as crianças na maior algazarra, vendo a moça ziguezagueando pela rua da Paz, nas imediações da Igreja de Santa Maria.
Acompanhando-a, a cada passo, gritavam sem parar:
- Maria Doida! Maria Doida!
Ela nem se importava. Parecia que estava noutro mundo, menos neste.
Às vezes, Maria sorria; outras chorava ...  nunca dizia nada.
Toda perseguição só findava quando o padre Miguel saía da casa paroquial vociferando:
- Parem com isto seus pestinhas! Ou vão sentir o gosto da minha cinta! Deixem esta infeliz em paz! Voltem já para suas casas.
O que a maioria não sabia era que Maria tinha uma triste história.
Quando nasceu, algum anjo, destes caídos, deve tê-la coberto com suas asas negras. Foi abandonada recém-nascida na porta da igreja, tão pequenina e indefesa.
Padre Miguel fez de tudo para que a adotassem. Ninguém a quis. Nunca teve uma família.
As freiras Marianas a acolheram no asilo, que, por sinal, estava apinhado de crianças, impossibilitando às irmãs de atenderem, como se devia, a todas elas. Também, os recursos eram parcos. Ajuda? Muito pouco recebiam.
Muito cedo a menina se enveredou para as ruas. E, foi nelas onde cresceu em abandono e vazia de sonhos.
Tornou-se - Maria das esquinas - perdida nas noites.
Do bem esquecida, seguia sua sina...
Se a sorte existia? ... Ah! Ela nunca a encontrou.
O tempo passou depressa.
E numa noite, sob chuva fria, cruzou as avenidas em busca de um abrigo para dar à luz ao fardo que do ventre não tinha abortado.
Adentrou no recinto sombrio onde os mortos são inumados.
Fraca Maria, forte se tornou.
Na morada comum, a que nos iguala a todos, foi o local escolhido para o parto.
A triste moça, em silêncio, suportou todas as dores. De cócoras libertou o filho que pela terra foi acolhido.
Ali mesmo, no relento, o deixou...  -  Objeto descartado!!!
Maria sem olhar para trás partiu com o vento.
Mas, o nome que carregava na consciência gritava:
- Maria! Maria! Não seja desgraçada! Não abandone o menino mãe desnaturada!
Maria viu-se tomada por sentimentos desconhecidos. Nunca sentidos...
Correu pelas ruas, alucinada, em busca da fonte de seu martírio...
Traçado já estava o destino!
Pobre Maria! Pela sorte esquecida!
Só encontrou o vazio sobre a terra ensanguentada. Ali, o menino não estava. Neste tenebroso momento Maria endoideceu de vez!!!
A partir de então, tornou-se - " Maria a Doida  " !!!

Mel Redi
Enviado por Mel Redi em 17/05/2009
Reeditado em 17/05/2009
Código do texto: T1599084