As imensas vezes que decidi que ainda não era hora de ir...

Ela estava ao meu redor, zombando, ameaçando, amedrontando..., não me deixava viver, nem respirar direito, nem sorrir, ou pedir ajuda.

Eu sabia que ainda não era a hora, que ainda havia um resto de mim, um pequeno pedaço que queria mais um minuto, uma hora, um dia.

Não era voluntário para estar naquelas condições, simplesmente aconteceu.

Do chão ao teto, ela não me deixava um único vão para fugir. Escapar numa fuga alucinada e vitoriosa... ela sabia que eu não seria capaz, que eu não levantaria e, simplesmente, sairia caminhando, como se tivesse toda a sorte do mundo.

Ah! Como eu queria ter forças para subjugá-la, atirá-la ao chão e sair gritando que eu havia vencido a luta, mas não é assim que as coisas funcionam. Não demorou muito para que meu corpo desistisse antes de mim, do meu espírito.

E ela continuava ali, ao meu lado, todos os dias, todas as horas e minutos, cada derradeiro segundo. Ela insistia, me dava garantias de que eu não sentiria dor, que tudo seria diferente, calmo, sereno, acolhedor. Nada me convencia e eu perdi a conta das imensas vezes que decidi que ainda não era hora de ir.

Então, ela me convenceu que era um anjo, e que eu deveria acompanhá-la. Estava escrito e nem mesmo ela podia apagar as letras negras do livro da morte.

O anjo negro me levou em seu colo para um mundo que eu não conhecia...e dessa vez eu não pude evitar.

Alexandre Costa
Enviado por Alexandre Costa em 23/05/2006
Código do texto: T161193