Dra. Maria

Como a dermatologista de João estivesse de férias, a solução seria levar seus exames em outra médica. Relutante, marcou uma hora na tarde daquele dia. Relutante, pois já era paciente de Andréia havia certo tempo e, portanto, conhecia e gostava de seu temperamento, de sua maneira em atender seus pacientes. Ela era uma profissional competente, dedicada, atenciosa, simpática e, acima de tudo, educada.

Por todas essas qualidades estarem reunidas em somente uma médica é que João chegou a pensar em desistir da consulta. Mas afinal, qual seria o problema? Talvez a nova médica fosse menos sorridente, contudo, se fosse boa profissional, era o que bastava, ele não estava em busca de uma amiga e, sim, de uma dermatologista. Mas e, se ela for daquelas que não escuta o paciente, que não leva em conta o que lhe tem acontecido em relação à sua saúde, que desconsidera totalmente a opinião da pessoa, porque ela é a médica e, portanto, a detentora do poder? Não, alguma coisa do que ele dissesse, ela levaria em consideração... Por outro lado, e se ela fosse daquelas que quando se adentra o consultório vai logo lhe tratando tão mal, como se você fosse um nada, você é apenas um paciente, um ser inferior e ela a que cursou MEDICINA! Ora, que bobagem, nem todos os médicos são tão arrogantes e prepotentes. A Andréia, por exemplo, atende como médica e profissional, lhe ouve e lhe respeita. Dá o seu diagnóstico, afinal estudou pra isso, sabe muito do porquê de as manchas de João estarem ali, entretanto não se julga melhor do que ele, não fica em cima de um pedestal.

Vamos parar de fobia de médicos. Foi a decisão tomada por João.

- João. (tom seco)

- Boa tarde! (tom simpático)

- Sente-se, por favor. (tom direto)

- Fiz uns exames... (tom humilde)

- A secretária me adiantou. (tom seco e direto)

- Não pude levá-los para Andréia, a quem já vinha fazendo trata... (tom humilde)

- D O U T O R A Andréia! Não estudamos tanto pra não sermos chamadas de Doutora! (tom arrogante e rude)

- Desculpe-me, eu a chamo de Andréia porque me sinto à vontade com ela, mas não por falta de respeito, muito pelo contrário. (tom levemente irritado)

- Mas é DOUTORA Andréia, porque ela merece o reconhecimento do título. (tom arrogante e rude)

- Não pensei que isso fosse tão importante! (tom irônico)

- Não, pra mim isso não é tão importante, de maneira alguma. Mas quando o porteiro do meu prédio me chama por Dona Maria... onde é que já se viu? Sou Dra. Maria! (tom extremamente irritado, prepotente, arrogante, mala-sem-alça, x%*#%@z!)

- Puxa, sempre pensei que o mais importante fosse o que as pessoas são de fato e não os títulos que carregam! (tom irônico)

- Sim... (tom arrogante)

- Mas voltando ao tratamento, se Andréia merece ser tratada por Doutora, e não digo que não mereça, então, eu também deveria ser tratado por Doutor João. (tom orgulhoso)

- Ah, por que, você é Doutor? (tom de desdém)

- Sim, Doutor em Física. (tom arrogante)

- Ah, sim, pois não Dr. João, não me entenda mal é que estudamos tanto... (tom de sem-graça)

- Ah, sim, eu entendo. Eu também estudei muito, provavelmente mais do que a senhora. Foram vinte e quatro anos da minha vida para chegar ao doutorado. (tom orgulhoso)

- Oh! (tom de sem-graça)

- Aliás, a senhora que estudou “tanto”, deve ter doutorado? (tom cínico)

- Ora, deixemos de formalidades... mas e suas manchas, desapareceram? Tem usado filtro? Essas manchinhas são chatinhas, mas não fazem mal a ninguém, basta cuidar... (tom humilde e simpático)

Imaginem só, João fez tantas ilações a respeito daquela simpática figura...

João curou-se do medo de ser mal-tratado por médicos. Passa bem.

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