HIstória de Cid - Capítulo 1

Capítulo 1 - Mais um trabalho

1

Puxar o gatilho assim que entrar em um lugar discreto. Na cabeça, não no ombro, nem na goela, mas sim na cabeça.

Os pensamentos de Cid sempre eram frios e calculistas, ele tinha certeza que se alguém um dia espiasse pela porta do seu cérebro, ficaria louco em instantes. Ele não tinha medo, não tinha pesar, não tinha receio. O que tinha de ser feito, era feito. Esse era seu trabalho, como ganhava a vida. Ah... se sua mãe soubesse disso.

Estava estacionado perto da entrada do prédio da companhia Gulian & Roy, no Brooklyn. Era o lugar onde os melhores advogados dos Estados Unidos trabalhavam, inclusive Roy Anthony Holmes, o cara por quem Cid estava esperando. Ele tinha irritado de algum modo o homem que contratou os serviços de Cid, e seu trabalho era acabar com esse incomodo na espinha do Sr. Gugliemetti.

Ele continuava entoando seu mantra para se concentrar. Puxar o gatilho assim que entrar em um lugar discreto. Na cabeça, não no ombro, nem na goela, mas sim na cabeça. Não fez muitas perguntas ao Sr. Gugliemetti, era seu primeiro trabalho para o grande mafioso do Brooklyn, e não gostava muito de questionar os porquês de contratarem seus serviços. O importante era tudo terminar como o planejado e o dinheiro aparecer no seu bolso logo depois.

Sempre foi assim com o rapaz, e ele não gostava nada de mudar sua rotina, se é que aquilo poderia ser chamado de rotina. Matador de aluguel não é uma coisa que se ouça ser uma profissão monótona. Aliás, não é uma profissão que se ouve muito por aí.

- Finalmente! – Uma limosine preta parou na entrada do Gulian & Roy e de lá saiu um pequeno homem, bastante gordo e com um bigode cobrindo quase toda a sua boca – E bate com o perfil, é esse o cara.

Cid não via muito os noticiários, era desligado do mundo, sempre pensando no seu trabalho, nos jogos e nas mulheres. Se soubesse que seu alvo era uma das pessoas mais populares na mídia no momento, talvez não estivesse tão calmo quanto estava naquela noite.

Roy Anthony Holmes tinha acabado de se casar com Suzanne Petra, a atriz ganhadora de oscars de Hollywood. Desde a eleição do novo presidente, ele tinha sido o homem que mais apareceu nas televisões das casas dos americanos e do resto do mundo, se por acaso algo trágico acontecesse a Roy, as autoridades fariam o possível para encontrar quem o fez.

Os olhos de Cid estavam fixados em Roy, mas ao mesmo tempo prestando atenção a tudo em sua volta. Carros, pessoas, seguranças, até o posicionamento dos hidrantes era calculado por aquela mente fria. Ele esperou até o baixinho gordo desaparecer da sua linha de visão, tinha que ser em um local discreto, e Cid o levaria até seu escritório para terminar seu trabalho.

- Hora do show! – Cid saiu do seu Kadett e guardou a Sig-Sauer nas suas costas.

2

- Boa noite Meredith, como estamos hoje? – Perguntou o senhor baixinho com uma bela dama do seu lado.

- Estamos ótimos Sr Holmes! Obrigado por perguntar. Como foi a noite?

- Ah, o mesmo de sempre, Suzanne e eu fomos ao restaurante, dançamos um pouco e encontramos velhos amigos, não é querida?

- Lógico, meu amor. Ah, Merry, não sei o que seria de mim se não fosse esse homem maravilhoso!

Meredith nunca entendeu como o Sr. Holmes conseguiu se casar com aquela mulher. Sim, ele era um sujeito muito simpático, e rico, mas pensar que isso conquistaria uma mulher bela e cheia da grana como ela, não cabia em sua cabeça. Era óbvio que a Sra. Holmes amava seu marido, mas como essa paixão começou, ela não tinha a menor idéia.

- Seu escritório está pronto para a chegada da pessoa que chamou Sr. Holmes, assim que ela chegar, eu lhe aviso no seu ramal.

- Obrigado, Meredith. Vamos aproveitar nossos últimos minutos antes de eu resolver essa coisa importante, meu amor.

- Vamos sim, querido.

O obeso Sr. Pegou na mão da atriz famosa e a levou para o elevador. Esticou a mão em direção a porta quando a campainha avisou que já podiam entrar.

- Boa noite Meredith!

- Boa noite Sr. Holm....

- AAAAHHH!! – Suzanne gritou e caiu para trás quando viu o sangue sair da cabeça de Merry. A menina andou alguns segundos depois do tiro, seus olhos olhando para o nada, pareciam estar querendo pegar alguma coisa no ar. Antes que Suzanne caísse no chão, ela já estava estatelada no azulejo, dando alguns espasmos antes de morrer.

Cid olhou para o baixinho de bigode:

- Roy, precisamos conversar.

3

- Leve meu dinheiro, meus carros. Eu te dou tudo que tenho, mas por favor, não me mate senhor, não me mate.

- Cala a boca! Você tá deprimente.

Roy Holmes estava ajoelhado no chão com toda a sua roupa coberta de suor e lágrimas, teve de carregar sua mulher até seu escritório, o que precisou de muito esforço físico, ainda mais com uma arma encostando em sua nuca toda vez que parava para respirar.

- Por favor, por favor... – o homem que antes estava com um sorriso coberto por um bigode agora parecia uma criança com medo de levar uma surra do pai. Tentava segurar nas calças de Cid para implorar seu perdão.

- Eu não vou te matar, pelo menos não agora. Se você me der as respostas certas, eu vou te deixar viver.

- Qualquer coisa, qualquer coisa, mas por favor... não me mate...

- Para com isso homem! Senta na sua cadeira e vamos conversar como pessoas civilizadas.

O esforço para levantar era tanto que o Sr. Holmes quase desistiu de fazê-lo. Seu corpo estava todo tremendo, ele não tinha nenhum controle sobre ele. Mas o barulho da arma sendo engatilhada o fez correr para sua cadeira como se nada tivesse acontecido.

- Isso, muito bem, agora – Cid sentou na mesa olhando para os olhos de Holmes – você sabe porque estou aqui, não sabe Roy?

- Não... não senhor, eu não sei.

- Hummm... não foi um bom começo.

Holmes desatou a chorar novamente, abaixou sua cabeça em desespero e ficou soluçando, cada vez mais parecia uma criança usando terno e bigode de mentira.

- Eu fiz algo para alguém? Eu ajudei na prisão de um amigo seu? Posso te ajudar a coloca-lo de volta na liberdade, me diga o nome e eu irei agora ligar para meus...

- Cala a boca Roy!! Seu desespero está me chateando. Não to aqui por um amigo. Fui contratado por um conhecido seu que você anda incomodando muito. O Sr. Gugliemetti não curte muito pessoas como você, que ficam fuçando nos negócios dele. Estou aqui para pedir humildemente para você parar de fazer isso, ou ele virá em pessoa pedir para que pare. E você sabe que ele odeia fazer esse tipo de coisa – o texto que lhe pediram para falar foi exatamente decorado, nem uma vírgula fora do que lhe disseram.

- Ah, meu Deus! Eu disse para Gulian deixar isso para lá. Então foi você que o raptou? Por favor, não me mate! Juro por Deus que eu nunca mais mexerei no caso de Gugliemetti. E vou fazer Gulian fazer o mesmo. Por favor, nos deixe em paz.

Cid não mostrou sua surpresa, mas o que Holmes disse o deixou surpreso. Também tinham levado Gulian, o outro nome do prédio que estava, ele não sabia que já tinham contratado alguém para o trabalho além dele. Mas depois ele perguntaria isso para o Sr. Gugliemetti, o importante agora era terminar seu serviço e deixar Holmes cagando de medo.

- Espero realmente que você faça isso Roy. Vou dar meu recado para o Sr. Gugliemetti, e quem sabe ele possa deixar pra lá tudo o que você anda fazendo pra ele.

- Ah, Deus! Obrigado, obrigado! – A criança de bigode agora era um garoto que recebeu desculpas do pai depois da briga, parecia aliviado, mas as lágrimas continuavam a cair do seu rosto – posso levar minha esposa para o hospital? Acho que ela não está bem.

- Faça o que quiser, meu recado foi dado. Mas antes preciso dizer uma coisa para você Roy.

- O que?

- Durma com os anjos.

Puxar o gatilho assim que entrar em um lugar discreto. Na cabeça, não no ombro, nem na goela, mas sim na cabeça. Era o mantra de Cid, mas ele não gostava de fazer as coisas assim. Gostava de por medo, de fazer as pessoas ficarem em um estado horrível antes de morrerem. Ele gostava disso, ah como gostava.

Olhou para a mulher caída no meio da sala, colocou-a junto do marido – afinal, seria divertido ela acordar e ver o homem morto abraçado a ela –, limpou suas mãos e foi em direção ao seu Kadett para falar com Gugliemetti.

Bardo de Solia
Enviado por Bardo de Solia em 29/08/2009
Código do texto: T1782028
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