ROSEIRA ZANGADA

Corredores longos e com pouca claridade,

Arcos enormes feitos com pedras cortadas,

Que davam acesso ao jardim interno do Convento de Monte Alverne.

Todas as manhãs por essas passagens havia um séqüito de frades que iam fazer as laudes

Junto às irmãs rosas do Jardim.

Rosas lindas dançavam aos raios do sol naquele alvorecer de primavera.

Rosas amarelas, rosas vermelhas, rosas cor-de-rosa, rosas brancas...

No centro, um chafariz que com os chuviscos,

Refrescava todo o jardim durante toda a manhã.

Bancos feitos de pedras aguardavam as carnudas nádegas dos velhos franciscanos,

Com suas barbas longas e brancas e seus hábitos lindos.

Com os cordões beges segurando as barrigas com mais de meio século de existência.

Ofício litúrgico nas mãos, sandálias silenciosas nos pés,

Lá sentavam eles para rezar.

Rezavam quase que sem precisar olhar os versículos da salmodia.

Ali, sentados nos bancos, eles cantavam os louvores do Senhor!

Rezavam por eles, pela ordem e por toda a Igreja!

Cantavam os hinos de Francisco e o sol sentia-se feliz,

Pois se tornavam todos os dias irmãos dele.

Frei Caetano, pequenino, barbicha na ponta do queixo,

Chinelinhos estourados nos pés,

Todos os dias, depois do ofício, continuava no jardim para cuidar das roseiras.

Enquanto ia cuidando, conversava com elas e com o Criador delas.

Um desses dias, quase no final da manhã,

Frei Caetano foi ferido por um espinho de uma das suas irmãs do jardim.

Não se irritou, mas o dedo foi ficando muito dolorido.

Ele, não conseguindo conter a dor,

Olhou para a roseira que o ferira e disse:

- Minha irmã me perdoe a falta de meus cuidados!

E olhou para o céu mais do que azul do Monte Alverne e exclamou:

- Pai cuida dessa minha irmã hoje, pois está muito zangada!

E eu vou cuidar do meu dedo.

Logo nos veremos de novo lá na capela!

E saiu arrastando seus chinelinhos em direção a cozinha do Convento.

Acácio