Setembro...

...)De tão azul, o céu parecerá pintado. E nós embarcaremos logo rumo às ilhas Cíclades

Houvesse cortinas no quarto, elas tremulariam com a brisa entrando pelas janelas abertas, de manhã bem cedo. Acordei sem a menor dificuldade, espiei a rua em silêncio, muito limpa, as azaléias vermelhas e brancas todas floridas. Parecia que alguém tinha recém pintado o céu, de tão azul. Respirei fundo. O ar puro da cidade lavava meus pulmões por dentro. Setembro estava chegando enfim.(...)

Caio Fernando de Abreu.

Sol em virgem, finalmente chegou setembro, azaléias colorindo as esquinas insanas e lotadas de saudades, o mar um pouco nervoso com o céu tomando todos os olhares para si, pessoas felizes ou não, caminhando pela rua rumo ao nada, quem sabe na procura do infinito, rezando baixinho pela eternidade do momento, respirando o ar de alivio por mais um ano que calmamente já ultrapassou a sua metade.

Janelas abertas, cervejas vazias, cinzeiros cheios, borboletas imaginárias rondando conversas sem assunto definido, talvez a beleza real da vida esteja naquilo que não se define. Na calçada crianças correndo alegres com sorrisos de quem não sabem nada sobre o futuro, e nem se quer imaginam como será o setembro daqui alguns anos, já que no momento o que mais importa são os sorvetes coloridos, as rodinhas dos patins, e os sábados nos parques com os pais que carregam uma vida inteira no olhar.

Ah setembro, que delícia, é o mês das flores, o mês onde o sol bate na janela no fim da tarde deixando os cômodos levemente alaranjados, o mês onde na cabeça existem muitos pensamentos e no coração apenas uma certeza, o mês onde dias bonitos podem ser surpreendidos com a chuva da nostalgia que cai trazendo vontades, desejos e até mesmo arrependimentos por tudo o que não foi, por todos os beijos não dados, e músicas não dançadas.

No rádio Elis Regina canta que “nosso ídolos ainda são os mesmos...” enquanto dragões tentam voar e se destacar em um mês que não lhes pertencem, um mês onde o que importa é a tentativa do doce, do puro, se é que existe o puro, o mês onde anjos dizem amém enquanto ligamos para aquele velho amigo e declaramos a saudade que não se cala, o mês onde retomamos amores antigos ou continuamos sem medo o amor que não nasceu em setembro, mas que mesmo assim se fez flor no nosso olhar formando em nossos corações jardins coloridos que a vista não consegue enxergar o fim.

Ah setembro, como eu te amo...

Carla Carina
Enviado por Carla Carina em 07/09/2009
Código do texto: T1797375
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