NO SILÉNCIO DA NOITE

Ia escurecendo.

O jovem Samuel, percorria as bermas da estrada, enquanto caminhava em direcção ao seu casario.

Mas ainda estava distante, pois tinha ido passear com a namorada.

Já lhe doíam os pés de tanto andar.

Sentou-se numa pedra à beira do mato, e entreteu-se a conversar com a sua cara-metade, que nem se apercebera que o tempo corria veloz.

Não tinham telemóveis nem eram amantes dos transportes.

Por isso tinham decidido fazer aquele passeio a pé.

Gostavam de se sentir bem fisicamente, e sabiam que aquela caminhada seria saudável.

Entre palavras carinhosas, o sol ia desaparecendo no horizonte.

Samuel e Joana , começavam a ficar preocupados.Aperceberam-se de que tinham perdido o norte.

Os seus sentidos desvaneceram por instantes.Só uma coisa os animava.

Os dois enamorados poderiam contar um com o outro para o que fosse necessário. Assim o receio da escuridão não lhe causaria decerto tanto temor.

Tirando da mochila que carregavam às costas umas sanduíches e dois daqueles sumos dietéticos, recuperavam das energias dispendidas.

Por mais vezes que Samuel tocasse o rosto de Joana, esta afastava-se dele.

_O que se passa agora contigo?_Indagava Samuel.

_Não te preocupes.Apenas estou a tremer de frio._Respondera a míuda.

Samuel pediu-lhe para que se aconhegasse a ele, o que fez de bom grado. Swentir-se-ia mais segura de si mesma.

Eram agora dez horas da noite, e porque o coração deles estava a ficar gelado, decidiram entranhar-se no bosque.

C omo levavam isqueiros, decidiram fazer uma fogueira para se aquecerem.

Com o lume a crepitar, sentiram que o amor que os unia era por certo mais quente naquele momento.

Um pouco saturado, Samuel decidira deitar-se ali mesmo no chão.

Enquanto Joana procurava mais alguns pauzinhos para a lareira, o rapaz contemplava o céu estrelado.

De repente algo lhe chamara a atenção.Uma estrela, brilhava mais que todas as outras.

Seria a mãe d etodas elas?_Pensou Samuel.

Toda aquela luminusidade enchera-lhe a alma de brio.

Qual delas teria anunciado a vinda de Cristo ao mundo?

O jovem já com os olhos semi-cerrados ia balbuciando por entre soluços algumas palavras de resposta a coisas que Joana lhe ia questionando.

No entanto ela apercebera-se que ele se deixara dormir.

Foi-lhe fazer companhia.

Por entre ruídos sem muito significado, a rapariga, mesmo assim, teve que se abraçar a Samuel com toda a sua força.

Neste movimento ele parecera-lhe estranho.

Entrara num sono profundo e sonhava com uma criança que levava em suas mãos uma pomba branca, para anunciar oa mundo inteiro que finalmente as guerras tinham acabado e que a Paz reinava agora em todo o Universo.

Ouviam-se os canhões a dispararem os últimos tiros.

E foi aqui, que Samuel dera um salto repentino, que fez com que Joana também acordasse.

Entrelaçaram as mãos e por entre um beijo mais picante, enolveram-se num acto de amor.

Sedentos, matavam as saudades, que sentiram por estarem longe da família naquela noite, e qua não sabia sequer o que lhes estaria a suceder.

Apesar dos perigos a que estavam expostos, descobriram que a noite esconde maravilhas e pode transformar-se numa nuvem, que fará brotar gotas de seiva que sacia a sede.

A noite tem encantos tais, que mesmo com o céu pardacento, fará surgir na mente da juventude mil ideias e aventuras.

Em toda a sua calmaria e em todo o seu esplendor, os moçoilos estavam felizes.

Aquela viagem que parecia que ia acabar tragicamente, trouxera-lhes a robustez e reforçou ainda mais os laços de ternura que davam sentido às suas vidas.

Tão negra e no entanto, tão colorida é a noite, que os faz por breves instantes, reis, rainhas e donos da própria natureza.

Renato Valadeiro

O Poeta Alentejano
Enviado por O Poeta Alentejano em 16/09/2009
Código do texto: T1813717
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