Ensaio sobre a toupeira II - A Política Cultural.

- de tanto ensaiar, um dia estréio.

A Política Cultural é uma tentativa vitoriosa de organizar o fracasso. Letras para analfabetos, signos para insignificantes, ficção para a lógica da realidade bizarra e o surreal para descrever o ordinário.

A literatura pelo seu caráter relevante tem contribuído com o culto da celebridade, com quinze minutos de fama escrevem livros que geram eventos, cocktails, noite de autógrafos e passeios por um tour de talk show. Não demoram logo estarão povoando as bibliotecas, monografias e a crítica especializada. Nesta área quem dá plantão é o Coelho dos ovos de ouro...

Há uma flagrante injustiça cultural que pode inclusive gerar problemas diplomáticos com Portugal, retocaram o idioma que o povo não falava, trocaram algumas omissões por outras que não serão ditas, depois vão dizer que os lusitanos fizeram a merda...

Livros povoam elementos de propaganda, publicitários recomendam leituras, outdoor promove escritor e feiras proliferam no culto ao objeto, enquanto numa academia qualquer a literatura toma chá conchavando um acordo ortográfico, como a profecia do Graça Aranha.

O teatro passou pelo ciclo dos monólogos, a pretexto de solos na atuação cênica, as produções espartanas fazem o espetáculo de único ator parecer um ofício de fé, quando o que há é falta de grana mesmo, grana própria, é claro...

Há o segmento dos musicais, uma ponte com a Broadway que visa apresentar o glamour para nossa cultura ordinária; ocorre que a Broadway é um genérico dos musicais londrinos e logo encenamos a caricatura da cópia.

Existe ainda na dramaturgia um grupo de encenadores picaretas que compram os direitos de determinado texto com vistas à construção de sucesso em total contradição ao sentido que aponta suas carreiras.

Ora são Sheakspeare em seguida estão massacrando um musical qualquer, saravá Andrew Lloyd Webber. Esta leitura ordinária do repertório que eles chamam de ecletismo é o salve-se quem puder, num ofício que a atriz laureada em Cannes é uma ilustre desconhecida do público geral.

O cinema saiu do delírio autoral masturbativo, mas ainda é uma puta de gabinetes, sem a chancela da verba oficial não há filme; logo não haverá filme na corrente que confronta a ideologia cultural vigente, quem pode falar com isenção usando o dinheiro alheio? Mamando na teta da viúva até o Jabor é cineasta...

Fico imaginando uma grande empresa estatal financiando um filme inquietante, realizado para provocar mal estar, mexer com o centro de gravidade do status quo e desqualificar tudo o que possa estar inserido com a comunicação neste contexto. Eis um filme que não produziremos, mas até Hollywood se exorciza vez em quando...

A dança passa pelos mesmos processos de financiamento, porém sofre mesmo é com a distância que tem do público, felizmente já estamos sentindo a influencia da releitura da dança, incorporando elementos de outras culturas e facilitando a renovação de público e artistas. Uma hora desta chega ao gueto e rele o samba e apresenta o funk para a aristocracia tupiniquim.

Sempre que a oportunidade oferece um espetáculo que funde elementos clássicos com circo, elementos contemporâneos com manifestações nativas percebem-se uma relação de proximidade evidenciada, fica claro que o percurso é longo e tudo ficaria mais fácil se os agentes soubessem onde estão e quais rumos devem tomar. A Deborah Colker assumiu o circo, falta assumir a linguagem...

Há na alta cultura brasileira um preconceito aristocrático, uma temporada de ópera no Teatro Municipal para melômanos que não se renovam tornando a temporada operística um privilégio; uma nova sala de concertos por um custo inaceitável, que percentual da população, de fato, terá acesso aos programas deste espaço? É a República dos Maias, com o dinheiro de sempre...

Os artistas plásticos foram constrangidos pela corrupção que projeta artistas em detrimento da obra, há um fetiche de representar uma classe pelos seus referenciais de posse quando o valor artístico é intangível e o referencial financeiro serve apenas para constatar tal fato, e que o diga Van Gogh. Galeristas e curadores são entidades inequívocas nesta dinâmica o artista é detalhe de pouca relevância. Quem tem um quadro na parede? Novo rico tem Iberê...

Falando em política, Roma nunca esteve tão próxima, no Coliseu de Brasília, as feras do Senado estão devorando os cristãos, os satanistas, as prostitutas e os ateus; que no dos outros é refresco. Aliás, o tesão em f... os outros me leva a crer em overdose de Viagra, não podem ver um “coitadinho” que levam logo pro coito.

O Ministro da Bahianidade não é bobo, foi traficar acarajé em causa própria, se bobear a turma do axé patrocina uma lavagem do Bonfim fora de época para cevar o porquinho...

*Este ensaio foi patrocinado com as verbas do mensalão, que estarão mantidas enquanto eu não descer o pau no governo; como este negócio de descer o pau não é comigo e pega mal, no próximo ensaio comento a eleição do Obama, jabá em dólar is very good...