O ESPELHO MÁGICO
Nas montanhas longínquas do Tibet, havia um antigo templo que possuía um lendário espelho que supostamente refletia o estado de espírito da pessoa (desejos, pensamentos, tendências...), certa vez, um noviço se aproximou de seu mestre e disse:
- Mestre, o senhor permite que eu me veja no espelho mágico?
-Sim. - Respondeu tranquilo, o mestre.
Ao entrarem na sala onde se encontrava o espelho, o noviço se colocou diante do mesmo...
- Mestre, vejo muitos demônios! O que significa? - Pergunta assustado, o noviço.
- Significa o quão estás distante do caminho. - Respondeu o mestre.
O noviço então passou a meditar várias horas por dia, a realizar várias atividades no templo e pregar os preceitos nas aldeias ao redor da montanha onde se situava o templo. Depois de algum tempo, ele retorna confiante ao mestre e diz:
- Mestre, leve-me novamente ao espelho! Sinto-me pronto!
Ao chegar diante do espelho, seguro e sorridente, ele diz:
- Eu sabia que havia encontrado o caminho, mestre! Vejo o próprio Buda!
E para sua surpresa, o mestre retruca:
- Oh meu filho, como estás ainda tão distante do caminho!
O discípulo então, inconformado, abandona o templo e sai a vagar por todo o Tibet mergulhado em profunda tristeza.
Trabalhou em muitos lugares, conheceu muitas pessoas, levou uma vida simples, serva, honesta e sem pretensões.
Após alguns anos, aquele homem de repente sentiu uma enorme saudade do velho mestre, voltou ao templo e o encontrou meditando.
-Mestre, que bom revê-lo! Não sei como pude abandoná-lo!
-Seja bem-vindo novamente. - Disse serenamente o mestre.
Após um abraço, o discípulo faz um pedido:
- Mestre, gostaria de me ver mais uma vez no espelho mágico.
Ao chegar diante do espelho, o espanto:
- Mestre, o espelho perdeu a magia! Olho para ele e vejo apenas a minha própria imagem! O mestre então explica:
- Acabaste de encontrar o caminho.
- Como assim, mestre?
- Devemos combater a maldade em nossos corações, mas as fraquezas do homem não se limitam à maldade, existe também a vaidade do ego que causa ilusão e loucura. Devemos nos ver como realmente somos, com um olhar sincero e o espírito perseverante.
O discípulo, que já estava satisfeito com aquelas sábias palavras, teve seus olhos inundados em lágrimas quando o mestre completou a lição, dizendo:
- Filho, a propósito, esse espelho não é e nunca foi mágico. É um espelho comum, que reflete a imagem das pessoas como outro qualquer, porém, se eu não o fizesse acreditar nessa lenda, talvez você nunca tivesse se conhecido tão bem.