Subexistência
Os passos dele, sorrateiros, rangeram as tábuas do assoalho.
Enfim veio, depois de longos e silentes dias.
Talvez houvesse esperança, ela para si dizia.
A chave retrai a tranca, a porta se abre em ruído.
Deitada nua, um sono fingido, para ser despertada a beijos.
Brincadeira de amantes, que tanto prazer lhes dera.
Mas já não havia beijos... Nem carícias, nem carinho.
Tomou-a porque ainda era sua, para usar como quisesse
E, saciado, acariciou-lhe a cabeça, como a um animal obediente.
- Você me serviu bem.
E a mulher riu de si, por ter pensado q era gente.
Já da porta lhe disse, com voz suave e fria:
– Prepare suas coisas, cedo vamos à feira.
Ela lhe procurou os olhos.
Não havia nada lá. Nada além de vazio.
Acenou com a cabeça, mas não baixou o olhar.
Ele se voltou e saiu,
E ela não permitiu mais que uma lágrima rolar.
E lá está ela na feira, de bonito vestido branco
Rápida negociação, um novo dono.
Ele aperta suas carnes e se ri contente
Fez excelente negócio!
Uma bela e saudável crioula
Com um crioulinho em seu ventre.