O VALE CONTINUA TRISTE

O VALE CONTINUA TRISTE

A terra sempre seca,

A safra sempre fraca,

O sabiá calado e

A anta sem roncar.

O Jequitinhonha não ri.

Sem milho, nem mandioca,

Sem feijão, sem arroz.

Sem almoço e sem jantar.

Água escassa, sem banho e sem frescor.

As rezadeiras levam água nos pés das Cruzes.

Rezam, pedem a São Pedro que mande ao menos uns chuviscos.

Uma garoa já alegra os corações!

Os roceiros trabalham a terra seca, com suas cantigas vão carpindo o esturricado chão.

O dia é quente,

O sol é ardente,

A sombra é longe,

A água é pouca,

O suor é bastante, pare um pouco Sebastião!

As crianças estão na Escolinha do arraial,

Quem sabe aprendendo como fazer chover no sertão.

Mas pode ser também,

Que estejam aprendendo a fugir desse triste Vale.

O caboclo vem para o corte da cana,

Ganhar dinheiro para a mulher sofrida se vestir.

Retornar ao lar e mesmo no sofrimento, vê-la de novo sorrir.

Ver as crianças felizes pelo seu regresso.

Nos olhos de cada uma a expectativa do presentinho que irão ganhar.

Elas só vêem sol escaldante, cabritas e vacas magras, jegue preguiçoso e muita poeira.

Ganhar um brinquedinho que papai trouxe é muito bom!

Até parece que o destino dessa terra é morrer de sede!

Quanto calor, quanta queimadura!

Até a pele do sertanejo é queimada, envelhecida, sofrida!

E para os roceiros teimosos, um dia ainda vai chover nessas serras.

Aí todos vão festejar!

E vão enraizar de vez nesse lugar!

Será que um dia vai haver fartura nesse sertão?

Sempre aparecem nuvens bonitas no céu!

Dão um sinal, sorriem para os sertanejos, depois vão embora!

A safra continua fraca,

O sabiá sem cantar,

A anta acordada

E o Jequitinhonha triste!

É isso aí!

Acácio

Acácio Nunes
Enviado por Acácio Nunes em 15/12/2009
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