A decisão de Jacob

"Do fantástico mundo da Terra Intermediária"

Anoitece em Élmor. Ás árvores gigantes da floresta estão iluminadas pela vida latente esculpida em seus caules. Mais precisamente a altura do número 134, vive uma jovem moça, que em anos terrestres diríamos não ter mais que dezoito anos, mas na contagem do povo de Élmor contava com cerca de cento e oitenta anos. Sua face de pele tenra, seus olhos cintilantes, suas orelhas pontiagudas, e seus cabelos negros escorridos até a cintura escondem sob o manto da meiguice uma coragem vibrante.

São tempos de guerra, na mesa do jantar não há nada mais que pão de trigo de Esboravadem, e folhas de badauê. Ela sorve o chá quente. A umidade da bebida deixa mais fresco o ar. Uma contradição pensa ela. O calor nos dá frescor. Não entendia. Rumou então para assuntos mais pertinentes. – Pai; tenho de ir. É minha missão! Disse ela olhando para um velho ao lado direito da mesa. Jacob. Ele em sua juventude fora um aventureiro nato, trilhando os caminhos mais tortuosos e Élmor, e além de suas fronteiras.

Lya recordava-se das histórias de seu velho pai. Vantagens que ele só lhe dizia quando ela ainda era uma criança. Sua história preferida, relembra, falava da luta de Jacob, aprisionado pelos maquiavélicos Elfos do Norte. Naquele tempo eles ainda não obedeciam a Dalfgan, sequer tinham erguido a gigantesca torre de vigilância, mas já cometiam suas maldades. Por anos o a polícia do Rei Lahur os perseguiu. Em vão. Apenas o velho Jacob, lhe impusera frondosa derrota. Há na praça de Élmor ainda uma estátua com seu rosto decapitando um dos elfos. Hoje a estátua está empoeirada, coberta de dejetos de pássaros. Esquecida, assim como o espírito de aventura no pai de Lya.

Ela olha para seu pai com certa decepção. Sua mãe não se atreve em dar opinião, e se o fizesse, seria contrária aos desejos de sua jovem filha. Nos livros que Lya costumava ler aprendeu que o maio de todos os erros era a omissão. Ganhar, ou perder sempre foi um fato decorrente dos que apenas não se conformam. Seu pai não era mais o mesmo. Seus olhos única e exclusivamente preocupados com o pão sobre a mesa eram a resposta negativa que ela queria ouvir. Jacob estava como todos os demais, da floresta de Élmor, alheio ao que acontecia fora de suas fronteiras. Mesmo que a fome, e a falta de alimentos por causa da guerra já visitassem seu povo. – Vá embora! Disse Jacob, para outro velho que se juntara ao jantar. – E, por favor, não alimente as idéias subversivas de minha filha. Completou.

Karab Matravóich levantou-se. Viu que não era bem vindo à casa de Jacob. Ele ainda olhou firmemente para Jacob, que sequer o encarava. – Senhor Jacob. A guerra já chegou aqui. Sua filha tem um dom especial. Ela é uma das escolhidas. Haverá um grupo que pacificará esta terra, e se o senhor quer o sucesso deste grupo haverá de permitir que Lya os acompanhe. O senhor sabe bem qual sangue corre nestas veias. Disse e partiu.

Jacob permaneceu em silêncio. Ninguém mais falou até findar o jantar. Lya se retirou para o pequeno quarto, esculpido no tronco oco de um Carvalho gigante. Da pequena janela circular, com folhas transparentes de Bigóia, uma planta nativa, ela observava o fluxo contínuo da cidade que não adormecia. Em Élmor havia movimento dia e noite, embora pouco se diferenciasse já que sob as copas, pouca luz solar penetrava. Seu olhar para a cidade era de tristeza. Ela não queria estar ali. Adormeceu, com lágrimas escorrendo pela face.

O burburinho, e os passos pelas escadarias e pontes que interligavam uma árvore a outra haviam diminuído consideravelmente. Um sonho fez a jovem Lya despertar. Era um sonho angustiante. Teve a nítida visão de um pássaro gigantesco que conduzia em seus braços um homem e um velho. Seu instinto dizia que era por ela que procuravam. Quando viu a imagem se aproximando, acordou. O silêncio imperava em seu quarto.

Pensou em voltar a dormir. Mas passos pelo corredor chamaram a sua atenção. – Quem está aí? Perguntou. A porta arrastada cuidadosamente para não ranger, e também não acordar Marineth, revelou um rosto sagaz iluminado por velas de tissan. Lya logo reconheceu o velho. – Pai!

Pé por pé ele entrou, e pediu silêncio. Trazia consigo uma velha lança, companheira de grandes caçadas, e uma adaga de prata, com fio reluzente, e que com o passar dos anos não tinha mais as manchas negras do sangue élfico. Ele deu as armas a sua filha e abraçou-a como fosse uma despedida.

Não falaram uma única palavra. O momento não exigia palavras. Os gestos e os movimentos falavam por mil trombetas de Yasi’s. Lya sequer olhou para trás. Ela sabia o que tinha a fazer. E tinha a permissão que faltava para partir em busca de sua própria identidade.

Douglas Eralldo
Enviado por Douglas Eralldo em 19/01/2010
Código do texto: T2038126
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