Só pra constar

É aquele telefonema que não toca.

É aquele encontro ocasional que não ocorre.

É o abraço que não existe.

Ai, que saudade!

Aquela saudade louca, sabe. Louca mesmo. Saudade!

Os problemas se acumulam, mas o abraço não chega.

Minha vida é como São Paulo no momento. É tudo cinza, é um calor frio, é uma chuva que destrói, provoca choros, tragédias, provoca a perda.

São conquistas e perdas. Perco as pessoas ao meu redor, ganho o ilusório, o desejo.

Um equilíbrio desonesto, que tira de um lado e coloca em outro. Mas quem falou que o que se repõe é melhor do que aquilo que se perdeu? E eu tenho a certeza que essa perda proporcionou um ganho maior?

Eu não quero perder! Quero ganhar!

Acho que sou meio antipático.

Não cumprimento. Não falo “oi”. Não faço muitas perguntas nem exijo respostas.

Não dou feliz natal nem feliz ano novo.

Nessa época de natal e ano novo todo mundo vai ficar com a família ou viajar com os amigos.

Pode esquecer em me ver numa mesa com tio Zé, João, Roberta e Maria. Não vou mesmo em reuniões de família. Não quero!

Foda-se meus amigos. Foda-se praia. Aquela bosta de mar brilhando e transparente. Espero que um dia tudo seja poluído e esses mares sejam escuros como petróleo.

Vou colocar na ordem.

Foda-se Aline e sua família em Guarujá !

Foda-se Ana e sua família em Ubatuba !

Foda-se Eliza com sua família em São Paulo !

Vou ficar sozinho. Aqui ! No meu canto.

Não há nada de encanto nem de novo. É só o tempo se passando. E eu odeio esse tal de tempo.

Odeio tudo que ele fez pra mim. Odeio sua covardia de só destruir e nada repor. Não me ajuda em nada, só me deixa mais velho, feio, barrigudo e triste.

É um rolo compressor destruindo as armas que nunca vou ter.

É um crematório destruindo todas as drogas que não vou usar.

Só pra constar como foi meu fim de ano.

Depois vem o carnaval. Eu odeio o carnaval porque as pessoas fazem sexo e eu não. Eu odeio porque alguém faz alguma coisa e eu não.

E isso se prolonga para o resto do ano. Se prolonga para o resto da minha vida.

Odeio saber que alguém faz algo e eu não.

Eu fico sentado vendo filmes, ouvindo músicas, lendo porcarias para me deixar mais triste, dormindo e comendo. Como um hamster com cérebro.

E ainda me julgam.

Que vida chata. Nada está bom, nada deixa bem.

No fundo eu sempre procuro um amor, mas quando acho não percebo que tenho.

E eu de novo lembrando. Blá Blá Blá...

Estou cansado, pra variar.

Essa cobrança pelo que sou e tenho que ser.

Essa necessidade.

No fundo, sou vazio. Sou chato.

Não tenho nada a acrescentar.

Plínio Platus
Enviado por Plínio Platus em 30/01/2010
Reeditado em 30/01/2010
Código do texto: T2060650