VC...

...Eu subia o morro só pra ver você. Não imagina meu sofrimento! gordo preguiçoso que sempre fui. Por tua causa, matava e morria.

Daí te levaram. Eu babava no travesseiro à noite, abafando o choro no pano. Não tive coragem pra fugir. No coração o ódio intenso de Deus. Depois a escola, procurava os cadernos, a lousa meu refúgio. A professora loira lembrava você. Justo ela, loira e alta, cabelos longos e lisos. Ela esguia, você baixa, cabelo de cachos negros, olho marrom clarinho! – Mandei cartinha: poesia sem sentido. Pra ela nada de mais, mensagem de sobrinho, filho. Coragem que faltou até no papel. Palavras muito sublimadas, rodeio sem fim...

Não imagina os meses de violenta angústia, depois que ela foi. Atropelamento. Fui ao enterro com a coordenadora, de tanto que insisti.

Ano seguinte, figura sorumbática, misantropo que eu era, mudei pra capital. Na casa da tia todo sábado e domingo. Casulo de borboleta com meu primo; me arrumava as menininhas da rua, me ensinou até a me masturbar. Depois, fumar, beber... amado mestre!

Quando ele arranjou aquela namorada virou santinho, mas aí minha corrupção já era irreversível.

Aos 15, matava aula pra ir pro parque. Sempre tinha maconha e umas meninas desviadas pra gente ficar disputando. Se aparecia uma bonitinha, logo éra rainha fascista, monstro de acerbo orgulho. Logo também achava outra turma, mais velha e excitante. Questão de meses,umas rodavam na mão dos vagabundos. Sexo oral, moeda alternativa, forma rápida pra conseguir pó. Alguns já tavam no Crack; Paulinho me disse na escola que no estado onde ele morava o pessoal usava uma tal de Merla ou coisa assim. Mas daí eu me mudei de novo.Não deu tempo de chegar a ser um dos machos "Alpha" daqueles becos.

Meu pai havia saído de casa e, minha mãe arranjou um cara. Pedreiro, não tinha o polegar da mão direita. Cortou pra pegar dinheiro na firma, não recebeu muita coisa. Osnir, pra mim isso não era nome de gente. Fui obrigado a morar num barraco no terreno da obra que ele trabalhava, no centro. Comecei a cuidar de carros na rua ali perto.

Acho que foi aí que eu vi você...

Diferente, machucada do tempo – mesmo não tendo se passado tantos anos –, na calçada em uma mesinha de bar à noite. Dois velhos horríveis te comiam de desejo. Nojentos! Naquele dia eu pensei que deixei de amar você... Hoje vejo que, foi quando soube que era mesmo amor. Que nenhuma deformidade, física ou, mesmo de caráter, me faria não pensar em vc nunca mais...

Lara Loppes
Enviado por Lara Loppes em 18/02/2010
Reeditado em 22/02/2010
Código do texto: T2094449
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