Antes que o sol afogue

Mesmo que antecipasse aleatóriamente esse pensamento doentio, não havia imaginado que as mais belas palavras óbvias pudessem reprimir ideias loucas presas neste leviano comportamento. Leando nunca havia pensado na palavra medo, apesar da sua jovialidade. Nadar nunca havia sido sua especialidade, no entanto sua infância era cercada de colegas que incentivaram a refugiar-se em córregos ao invés de assistir aulas na escola. Havia feito algumas aulas de natação, porém não eram suficientes para que se arriscasse atravessar quilometros de água como se estivesse caminhando.

Leandro aceitou o desafio sem pestanejar, descer aquele rio de bote era algo extraordinário, contudo aquelas promessas de um dia ensolarado proporcionaria alguma diferente adrenalina em sua corrente sangüínea e retirasse seu ego titubeante preso naqueles dias entediados. Assumindo diretamente a responsabilidade de enfrentar aquele dia de calor insuportável da melhor forma, incentivou seus amigos a alugar aquele bote no intuito de realizar inúmeras descidas naquele rio, entretanto acreditou que jamais precisaria de um colete salva-vidas devido a sua perícia e vasta esperiência em nado! Alimentando sua alma no orgulho e vaidade e excesso de confiança; trocou os míseros centavos do aluguel do equipamento de segurança por uma lata de cerveja, pois acreditou que nos piores dos males conseguiria garantir-se! Pronto! Havia desafiado o rio!

Aquelas descidas nas corredeiras eram cada vez mais emocionantes. O rio era algo mágico para leandro, corredeiras de sensações diferenciadas que liberavam a adrenalina molhada naqueles aventureiros, que aumentavam a vontade de repetir o episòdio a cada nova descida sem importarem com o fato de que a subida do rio era cansativa devido ao peso da embarcação; no entado ele deixou desapercebido que encontrava-se alto, o efeito alcoolico já começara a tomar conta das suas atitudes, aumentando assim seu excesso de confiança, expondo a si e seus amigos. Inúmeras descidas rio abaixo, esforço compensado rio acima, e a diversão ia ficando excitante a cada momento. A calmaria do rio começou a expressar um silêncio estranho, no entanto todos estavam decididos a realizar uma última descida, aumentando assim a adrenalida geral da equipe. Leando que sempre cuidava do trajeto da embarcação decidiu deixar por conta dos outros ocupantes e ficou na parte traseira do bote apreciando a descida degustando ali sua gelada cerveja. O novato comandante da embarcação sem nenhuma malícia e com alguns minutos de experiência em conduzir embarcações, teve um leve súbito de memória e esqueceu o caminho seguro do rio tomando o destino incontrolável a cachoeira de seis metros que surgiria logo a frente; quando Leandro percebeu já era muito tarde, todos estavam direcionados a um caminho sem volta, que fariam com que nenhum daqueles tripulantes conseguissem continuar na embarcação! Neste instante Leandro percebe o senso grotesco da situação, já era tarde! Seus corpo estava perdido, dando voltas por entre as pedras da cachoeira; agora era cada um por sí.

A cachoeira tinha uma força inexplicável, e suas pedras não eram das melhores almofadas naturais para os intactos joelhos, cotovelos e cabeças! Para quem estava com colete salva-vidas, tudo ficava mais fácil, era só boiar e acompanhar a correnteza até uma margem segura. O ébrio nadador estava embaraçado não esperava por esse acontecimento; seu excesso de confiança aos poucos foram esvaindo, e quando conseguiu sair do redemoinho da cachoeira com o corpo já debilitado percebeu que tinha muito que nadar; e além das pedras oriundas do rio ele transportava em suas mãos objetos pessoais como óculos, boné e carteira que foram doados ao rio. Já não tinha sede pois em seu estômago estava armazenado involuntáriamente uma excessiva quantidade de água, o que posteriormente o atrasaria para alcançar à margem. O desafio havia começado,mais do que nunca era preciso alcançar a margem que estava em uma distância de trinta metros,no entanto a correnteza e o remanso do rio roubava cada vez mais a probalidade de alcançar a área rasa dos banhistas. Haviam cerca de trezentas pessoas em volta do rio, pedir ajuda? Jamais! Seu orgulho não permitiria nesse momento demonstrando estar acima de sua própria vida era tarde! Suas forças estavam se acabando; não teria outro geito era preciso entregar-se e deixar que o destino decidisse o que já era fato! Leandro desistiu de nadar, cansou-se de boiar e resolver afundar e substituir o ar dos seus pulmões pela água, fechou os olhos para que parecesse fácil e preferindo a dor que a eterna agonia...

Um sonho surgiu em flashes impressionantes! Na pré escolha brincando com outras crianças; uma pedra surgiu do lado de fora da escola vindo atingir sua cabeça presenteando-lhe eternos 5 pontos no couro cabeludo. Uma brincadeira de rolar na grama rendeu-lhe um abraço em um formigueiro muito desagradável. Uma tarde ensolarada matando aula para assistir filmes adultos com seu melhor amigo da escola! Um desafio no ginásio; reprovado no 3 bimestres desafiou o professor e tirou 10 em ciências surpreendento a direção da escola que resolveu tirar provar repetindo o exame oralmente acompanhado por cinco professores! Que saíram surpresos com o a nota 10 de um conhecimento adquirido em uma semana. O aprendizado desde a infância a ganhar com seu suor seu proprio dinheiro! O primeiro beijo, o primeiro sexo, o primeiro e eterno amor! Os erros e acertos surgiram em poucos segundos e uma vida de vinte poucos anos no fundo de um rio longe de casa. Os seus amigos em um carro fúnebre entregando uma urna negra em sua casa!“Tá aqui seu filho dona! Sentimos muito!” Não! Isso podia terminar assim? Surgiram forças e fraquezas que o emergeram a superfície e mesmo com poucas forças percebeu que não deveria deixar que tudo se perdesse em uma medonha escuridão... Não tinha geito? Tentou algumas braçadas a mais no entanto o remanso ia cansando Leandro e ele voltava novamente ao ponto de partida; iria desistir? Estregar-se novamente? Não havia escolha! Mais a mesma correnteza que o sufocava trazia um presente: Uma garota? Ou um anjo macabro? Descia o rio tranquilamente em sua boia quando Leandro resolver seguir o ritmo do rio e finalmente atracou-se com o objeto; gerando transtornos para uma garota que imaginava tratar-se um de ladrão! Pediu socorro ao seu pai para que tomasse providências acerca do fato e perceberam a gravidade da situação. Ao atingir a terra firme dezenas de minutos foram necessários para que vomitasse a água ingerida juntamente com o sangue dos seus pulmões; já na tranquila calçada pode perceber o quanto magnificamente o sol brilhava!

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Gessé Cotrim
Enviado por Gessé Cotrim em 24/02/2010
Reeditado em 06/06/2010
Código do texto: T2104378
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