Onde está o amor menino?

H.A.T.S. 10:35 da manhã.

- Ele nasceu muito fraco, foi pra incubadora mais talvez não resista. Ele morrerá!

A mãe desesperada disse ao médico que se o filho tivesse de morrer, morreria nos braços dela, mais seria em casa e não ali.

Colégio M. L. G.18:30

O céu estava com muitas nuvens carregadas e o frio já se fazia presente naquele lugar. De repente, um garotinho começou a chorar. Já fazia 1 hora que ele estava a esperar o seu pai vir buscá-lo. Esperou tanto que decidiu pegar um banquinho para alcançar o orelhão branco e laranja que havia na escola. 19:30, ele então subiu no banco, puxou o fone do gancho, colocou a ficha no orelhão e rodou aquele disco cheio de números ligando assim para sua casa. A avó dele atendeu e pensou que ele estivesse na casa da tia. Preocupada, ela pediu que esperasse só mais uns dez minutos, que logo o pai dele chegaria para pegá-lo. Ele assim fez, retornou para a portaria e esperou até seu pai chegar. Seu pai chegou num Voiagem cinza e o garoto então abriu um sorriso de orelha a orelha e se despediu do porteiro. Dentro do carro, o menino contou a seu pai que estava com medo de ficar sozinho na escola. O pai dele disse que estava resolvendo uns problemas e que por isso demorara de chegar.

O tempo foi passando, o garotinho foi crescendo, mudou para a escola C.M.G., onde estudou por três anos. Dando continuidade aos seus estudos, ele começou a estudar no colégio V.M.D.C; um casarão antigo cuja arquitetura aparentava ser do período colonial.Cursou a quinta série e com um pouco de dificuldade conseguiu passar de ano. As coisas não iam muito bem em sua casa. O casamento de seus pais estavam seguindo o mesmo rumo que o dos seus avós paternos e maternos, estava chegando ao fim.

O garoto cursou a sexta série e sentia muita dificuldade. Sua timidez o fazia ficar acanhado na carteira como se estivesse entendendo o assunto. O ano letivo já estava na metade e as notas do rapaz continuavam lá embaixo e de repente ele recebeu uma notícia que o abalara bastante. Seus pais finalmente separaram-se. Ele foi morar com a mãe num prédio que seu avô tinha.

A vida estava sendo cruel com o rapaz! Acabara de ver sua família se desestruturando e suas notas no colégio não estavam nada legal. O final do ano havia chegado e o garoto notou que sua mãe estava mexendo em sua mochila. Ele estava ferrado! Ele agora via sua mãe abrindo os testes e provas que estavam emboladas. Não tinha mais jeito, o garoto teria que repetir de ano.

Para piorar as coisas, quando iniciou o outro ano, o jovem rapaz ouviu sua mãe dizer que ele teria que voltar a morar com seu pai e sua avó paterna, pois ela iria para São Paulo tentar melhorar de vida. Ele adorava sua avó e seu pai, mas não estava gostando da idéia dela ir embora. Aquilo lhe cortou o coração do dia em que ela disse que iria embora até o dia em que ele foi com ela até a rodoviária e viu seu ônibus se afastar do terminal rodoviário. “Aquele tchau” fez o rapaz se desaguar em lágrimas. Ana, uma mulher que trabalhava na casa de sua tia a uns 16 anos voltou com ele para casa e foi tentando consolá-lo.

Mais um ano letivo estava começando e dessa vez o garoto estava estudando num colégio público cujo nome era R. T. C. Ele estudou lá da sexta série até a oitava, sempre dedicado nesse novo colégio não perdeu mais de ano e suas notas eram sempre boas. Quando cursou a oitava série ainda participou de um livro junto com os colegas de classe organizado por seu professor de Língua Portuguesa. No decorrer do ano ele ia se comunicando com a mãe por telefone, contando as novidades e matando um pouco da sua saudade.

Dessa vez era hora de começar o ensino médio. Logo no início do ano, outra notícia ruim já lhe perturbara. Sua avó que ajudara a lhe criar estava muito doente em Salvador. Com mais uma mês ele recebeu a notícia trágica da morte dela. Mais uma vez o jovem rapaz vivia um momento ruim. Com tudo ele continuou forte e se dedicando nos estudos. Estudou todo ensino médio no colégio I.D.D.S. onde conheceu um grande amor com quem viveu várias sensações que nenhum poeta jamais conseguirá explicar. O romance não deu certo e mais uma vez ele se via perdendo alguém que amava.

Acabou o ensino médio e o rapaz decidiu passar um tempo com a mãe em São Paulo. Morou lá três meses em Itapecerica da Serra, mas logo decidiu voltar para a sua terra. Tamanha foi a felicidade quando viu depois de três meses as luzes da cidade onde passou toda sua vida. Ao retornar, conseguiu um emprego com seu tio e sete meses depois outro melhor numa loja de material de construção.

Seu pai casou-se outra vez. A esposa dele aparentava ser legal até que por motivo real desconhecido, afastou dele a única irmã que o garoto tinha. Um tempo depois o garoto ganhou outro irmão o qual nunca teve oportunidade de pegar nos braços.

Sua mãe também teve outro relacionamento onde lhe rendeu uma linda filha. Essa “moçinha” fez aumentar a felicidade do rapaz, que agora já maior de idade, vive como todos, em busca de um pouco mais de felicidade.

Se essa felicidade está no casamento, ele não sabe, mas a carência e o amor que ele tem guardado no peito, fazem o coração dele um grão de areia na praia, e, toda vez que uma moça de olhos e sorriso bonitos ameaça o fazer feliz, então ele pensa em dar e receber carinho, pensa em ver duas ou três crianças correndo descalças no chão de casa e luta para que um dia isso tudo possa se tornar realidade.