Dona Nina- (FICÇÃO)

Era madrugada de 1997, fazia muito frio e chovia bastante. Os ventos balançavam as copas das arvores e assoviavam entre os corredores. De repente, escutaram-se umas “pancadas secas” na porta.

Dona Nina então se levantou, caminhou pelo corredor, olhou para o seu neto que dormia todo agasalhado e se dirigiu até a porta para ver quem batia àquela hora. Olhou pelo olho mágico que havia na porta de Pau D’arco e percebeu que era um menino todo maltrapilho. Ele aparentava ter uns nove anos de idade e tremia de frio. O garoto pediu um cobertor, mas infelizmente era tarde e Nina não abriu a porta. O garoto mesmo com frio, deitou-se ali mesmo e passou a noite.

Nina, como era chamada a senhora Cleide, adorava acordar cedo para preparar o café do seu neto e do seu filho. Nesse dia, ela levantou às 06:30 e depois que o café estava pronto, foi até a padaria. Ao abrir a porta de casa, se deparou com o garoto que batera na sua porta na madrugada. Ele tinha acabado de acordar com o barulho da porta sendo aberta. O guri vestia uma camisa rasgada e um shorte jeans que ele fizera de uma calça velha que avia ganhado. Ao ver a situação do garoto, Nina falou para o garoto esperar que ela traria algo para ele comer.

Ao retornar da padaria, Cleide trouxe vários pães e três brioches, passou pelo menino que estava sentado na porta de sua casa e pediu que ele esperasse mais um pouco. Ela foi até a cozinha, preparou um achocolatado , separou alguns biscoitos de maisena, uma fatia de bolo de laranja, o brioche e levou para o garoto. Tamanha foi a felicidade dele ao ver tanta comida em sua frente. O garoto não sabia se agradecia ou se comia, os olhos dele brilhavam. Nina disse que ela retornaria para a cozinha e que quando ele terminasse que a chamasse. Junto com seu neto e seu filho, ela sentou-se a mesa para tomar o café da manhã. Quinze minutos depois o garoto chamou.

- Dona já terminei... Dona...

Cleide então veio, perguntou se ele queria mais alguma coisa, mas ele disse que já estava satisfeito. Ela perguntou sobre a família dele, mas ele disse que não conheceu nem o pai nem a mãe, que ele era sozinho no mundo. Nina não sabia se ficava com o coração partido ou se com medo. Ela perguntou onde ele morava, mas ele disse que morava um dia debaixo de uma cobertura, num outro dia na frente da porta de alguma loja. Ele com receio de falar da sua vida agradeceu o alimento e se deu em disparada sem se despedir. Nina mais uma vez ficou confusa sem saber se confiava naquele garoto.

Passaram-se dois meses e de repente o garoto voltou a aparecer. Eram duas horas da tarde, o sol estava brilhando no céu e dessa vez, o garoto não estava maltrapilho. O neto de Nina que abriu a porta e falou com o garoto que perguntou por ela. O neto de Cleide falou que ela estava viajando e que voltaria na outra semana. O garoto pediu pra dizer que ele mandou um abraço pra ela.

Quando Cleide chegou de viagem o neto dela deu o recado e ela então começou a preocupar-se, pensando se ele estaria a rondar sua casa. Mais três dias passaram-se e o garoto voltou a aparecer. Era oito horas da manhã e Nina estava sentada em sua poltrona de couro fazendo uma colcha de fuxico para sua filha.

-Dona. O garoto chamou algumas vezes e batia palmas sem conseguir enxergar por entre as portas de vidro que complementavam a porta de pau d’arco. Nina então se dirigiu até a porta e falou que caso o garoto não falasse o que ele queria ela chamaria o juizado de menores.

-Não dona! Meu nome é Manoel, Ernestino Manoel. Eu fugi de casa, morava na Paraíba mais meus pais estavam num pé de guerra arretado por causa de comida pra mim. Mãe dizia a pai pra se virar então eu decidi me virar e me mandei de casa. Já fazem duas semanas eles devem tá doido atrás de mim, eu não tenho irmão, só eu mesmo, filho só.

O garoto falava sem parar, contando aquela história que aos poucos comovia D. Nina.

- Olhe, eu não posso lhe dar abrigo, mas posso lhe dá um ordenado para você fazer alguns favores pra mim.

Ele topou na hora e de favor em favor foi conquistando a confiança de Cleide.

Ela chegou até a lhe deixar dormir em sua casa durante uma semana, na condição de ele ligar para sua mãe e voltar para casa e mais uma vez ele concordou.

Passara seis dias que o garoto estava dormindo na casa de D. Nina e nesse dia ela notou que ele havia demorado de levantar. Ela então foi até a porta do quarto dele, chamou, chamou e nada do garoto responder. Ela então ficou preocupada e acabou dando um grito de socorro e logo em seguida desmaiou imaginando que o garoto teria morrido dentro de sua casa. Um vizinho que estava passando em frente de sua casa ouviu o clamor e entrou rapidamente para ajudá-la, já que seu filho tinha ido ao banco e seu neto tinha saído para fazer um trabalho na casa da colega.

Ao se recuperar, Cleide agradeceu ao vizinho e pediu que ele olhasse por debaixo de um buraco que havia na porta do quarto onde o garoto dormia para ver se havia alguém. Ele assim fez, mas não havia ninguém. Ela agradeceu ao vizinho o favor e preocupada, o levou até a porta de casa e logo em seguida foi até o quarto dela. Ao chegar lá, notou que aqueles seis dias que o garoto dormiu lá, foram suficientes para ele ter acesso até seu quarto e lhe roubar algumas economias e todas as suas jóias. Ela chorou tanto por ter confiado em alguém estranho, que mal queria sair de casa. Ficava só em frente da televisão e o único dia que saiu de casa, fora para ir até a delegacia prestar queixa do furto que sofrera.

Certo dia em frente à TV, ela viu a foto do rapaz passando no jornal, cuja reportagem era sobre drogas e também falava de mortes. Um tempo depois ela então descobriu que outro rapaz, sobre efeito de heroína havia roubado sua casa e o garoto na tentativa de evitar o roubo, correu atrás do criminoso com uma pistola que ele havia pego do seu pai, mas acabou morrendo trocando tiro com o criminoso. Nina então se arrependeu de ter duvidado do rapaz e chorou por pensar que ele morreu para defender a casa onde ele estava “passando um tempo”.