Violências

Ele a olhou com gula, ansioso por colocar-lhe as mãos. Ela jazia ali, esparramada, completamente insciente do que estava por vir. Delicadamente, ele começou a massageá-la, no início com suavidade, depois com força; e seus movimentos foram ficando mais firmes, num crescendo de vigor que a fazia amolecer...

Foi então que ele, do alto de seu metro e noventa, deu-lhe um soco. E outro, e mais outro. A violência foi tamanha que ela quase se partiu ao meio, mas nem teve tempo de respirar: ele a agarrou, jogou-a sobre a superfície e depois passou a surrá-la com vontade. Muito tempo assim o fez, e, quando a deixou, ela era uma massa disforme, que jazia inerte e passiva. Parecia tremer; ele se compadeceu dela e a cobriu com uma manta.

Assim ela ficou por cerca de uma hora; quando se sentia descansada e se acreditava livre de seu algoz, ele voltou. Ela estava muito inchada, mas ele não teve dúvidas: socou-a novamente, sorrindo de satisfação.

Assim que sentiu que já era o suficiente, moldou-a em forma de rosca e colocou-a no forno. Uma outra hora depois, a massa estava assada e o perfume do pão invadiu a casa.

A mulher veio da sala, atraída pelo cheiro bom que saía do forno. Sentou-se à mesa, que já estava posta com café e geléias, à espera da iguaria que em breve ele traria do forno.

Foi então que ela lhe disse num tom monocórdico, sem nem sequer notá-lo, enquanto examinava displicentemente as próprias unhas:

- Espero que hoje seja outro tipo de rosca... estou ficando enjoada de pão de passas!

Ele a olhou com gula, ansioso por colocar-lhe as mãos. Mas se conteve, pois sabia o quão especiais, desta vez, eram aquelas passas; mais alguns passos e ela seria passado.

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Este texto faz parte do Exercício Criativo - Não É o Que Parece

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