A janela dos mortos

A janela dos mortos

“O túnel era longo e escuro. Espectros negros, de contornos indefinidos, surgiam em ambos os lados, em atitude ameaçadora. Ela se sentia flutuar nas sombras de um mundo estranho e fantástico, manipulada por forças incompreensíveis, como se há muito houvesse perdido a percepção de tempo e espaço. Vozes longínquas e abafadas chegavam aos seus ouvidos, mas não podia compreendê-las, assemelhando-se aqueles sons bizarros a gemidos e lamentos de prisioneiros torturados. Quanto tempo se passara desde que fora lançada naquele ambiente misterioso ? Não saberia dizer. Ali, os minutos e os séculos se confundiam numa atemporalidade sobrenatural.

Apesar da escuridão e de estar envolvida pelo desconhecido, ela não sentia medo, pois fora tomada por uma calma inexplicável, não se deixando influenciar pelo desespero das figuras que sem parar rodopiavam ao seu redor, como folhas secas voando ao sabor do vento. A partir de um certo momento, porém, aquela sensação de torpor se esvaiu, e uma grande angústia se apoderou dela, pois mãos vigorosas tentavam agarrar-lhe o corpo, como náufragos que se atiram avidamente tentando alcançar uma tábua de salvação. Tomada de pânico, ela tentou fugir, gritar, movimentar-se para longe daquele pesadelo, mas seus membros permaneciam inertes, como se amarrados por fortíssimas correntes. Além disso, sentia que a velocidade aumentara muito e estava sendo arrastada de maneira irresistível por forças ignotas para um destino que parecia inevitável. E ao longe, podia perceber um contorno vago de algo que se assemelhava a uma imensa muralha, no centro da qual parecia haver uma movimentação semelhante a um redemoinho. E então, uma voz, proveniente talvez do mais íntimo de sua alma, ecoou repentinamente em seus ouvidos, dizendo: - Se ultrapassares a última barreira, jamais voltarás. Retorne agora, enquanto ainda te lembras de que foste um membro da Humanidade !

O pranto agora descia por sua face, enquanto ela percebia que a muralha negra se aproximava com uma rapidez impressionante. E quando estava prestes a ser tragada pelo redemoinho que zunia a poucos passos de distância, ela sentiu que estava sendo sugada por uma força irresistível, mergulhando então na inconsciência...

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- Está viva !!! Está viva !!! Conseguimos reanimá-la !!! Gritava o enfermeiro, diante da mulher deitada no acostamento.

Como se despertando de um profundo sono, ela sentia uma grande dor em todas as fibras de seu corpo, enquanto uma sensação de queimação tomava conta de seu ser, como se um fogo líquido estivesse correndo por suas veias. Sem conseguir emitir nenhum som, pôde com muito esforço mover a cabeça, e quando viu o veículo parado a poucos metros, uma torrente de lembranças surgiu em sua mente. O atropelamento, a espera pelo socorro, a inconsciência, a estranha visão...

Lágrimas incessantes agora deslizavam por seu rosto, numa sensação indefinível de alívio, medo, alegria e paz. Enquanto mãos cuidadosas a transportavam para a ambulância, ela fitou o céu, e pôde ver que um novo dia estava nascendo, majestoso, com os primeiros clarões.

A partir daquele instante, sua vida jamais seria a mesma..."

masaharu emoto
Enviado por masaharu emoto em 18/05/2010
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