Sobre Despedidas

Ele não sabia sobre palavras de despedida. Nunca antes havia inventado alguma sequer.

Nas andanças que fez pelo mundo, apenas se apegou ao sorriso e as danças que as pessoas proporcionavam entre elas mesmas. Os rituais de inicio e fim de dia, que pediam por proteção e votos de momentos alegres e gloriosos. Pegava-os e os eternizava com pena e papel.

Sempre descreveu o que achava de melhor em cada ser que o rodeava. E para achar isto, por vezes tinha que esperar alguém estar perdido. Mas logo o céu, que antes se fazia como imenso borrão de tinta preta tornava-se um azul muito vivo. Livre da sombra das nuvens e provendo um Sol que abraçava tudo a sua volta.

Eram nestas horas que as palavras que antes juntas formavam agradável melodia, se dispersavam, pois já tinham feito sua parte. E ele calmamente dava as costas e desaparecia no horizonte, pois seu trabalho já estava encerrado. O trabalho de lembrar as pessoas o quanto cada uma é importante neste mundo, e como sua falta é sentida pelo todo.

Mas raramente, ele se perdia. Como todos não era imune às artimanhas da Tristeza. E as coisas à frente tomavam contornos de cinza numa paisagem disforme. Uma frase latejava constantemente em sua cabeça: "Às vezes não precisamos de heróis".

Ele tentou, mas nunca entendeu bem ao certo o significado daquelas palavras.

Mas o Espírito da Vida, em forma de pequena criança sempre aparecia naquele momento e lhe pedia um abraço e logo ele tornava a escrever, fazendo flores novamente desabrocharem, sonhos realizarem e acalmando o mar.

Mas ele não sabia de palavras de despedida.

"Por que me despedir de algo que traz alegria e faz tão bem?" - assim pensava.

E apenas dava as costas e seguia seu caminho. Com sentimento de algum dever cumprido, e por algum tempo tristeza nos olhos e coração cortado.

Uma vez ele quase olhou para trás, mas teve receio que seus olhos vissem apenas as pegadas de passos em outra direção.

Ela não sabia o quanto ele a tinha como cara. Então ele pensava que ela não precisava saber de quanta falta ela faria ali.

Logo o contorno cinza e a paisagem disforme voltavam, mas bem atrás dele, correndo com suas curtas pernas, havia uma criança que mais cedo do que imaginava, iria lhe pedir um abraço.