Divagações de Outono
Ela fugiu na pressa de sempre, com seus medos e seus pudores. Escondeu-se nas sombras das árvores como um animal acuado. Ofegava, o vento lhe chicoteava o rosto com tal fúria que sentia ainda mais medo. Os olhos assustados buscavam ansiosos ver algo entre a vegetação. Nada! Não havia nada mais naquele lugar que não fossem seus próprios fantasmas. Ela acalmava-se, aos poucos, mas ainda tinha receios. Precisava libertar-se, deixar de fugir de si mesma, do seu próprio coração. Por que tantas angústias, tantas dúvidas?
As folhas despediam-se das árvores, lentamente, naquela tarde de outono. De todas as cores elas se deixavam cair e iam se juntando, uma a uma, próximas a ela. Não fazia sentido não ser feliz. Nem fazia sentido esconder-se dos sentimentos. Sentada junto às folhas, com o vento agora mais condescendente, ela refletia as emoções.
Deitou-se no tapete de folhas moribundas. Sentia-se como elas, quando recordava que tentou fugir para sempre. Vou abandonar-me! Ela recordava do que dissera em frente ao espelho. Sandice! Ela queria-se para si, como poderia desistir? Outros outonos se foram, mas este era especial. E deveria continuar sendo, se parasse de atropelar o destino com fugas mal planejadas. Ela queria sim, deveria sim, ser, fazer, estar... viver.
Gravado na lembrança estava o beijo, mergulhada em todas as confusões de sentimentos que borbulhavam em seu coração. Não sabia o que sentia, seria uma loucura? Uma doce loucura, se assim fosse. Nada disso, isso era então a vida que o destino prometera, apenas o início dela por assim dizer. Fechou os olhos, do que tinha medo? A felicidade lhe doía? Não sabia, mas queria saber. Então pare de fugir! Sim, eu vou parar.
Ela não quis mais correr de si, nem da vida, nem dos sonhos. As folhas queriam continuar caindo para proteger sua espécie. Mas ela não era como essas folhas, era como aquelas que ainda persistem, que não morrem até poderem alçar seu derradeiro voo para a chegada do inverno.