Conto n. 1

"Inspirado em Jean-Paul Sartre."

Domingo, ensolarado e insuportavelmente quente. As ruas tranqüilas daquele bairro jamais sonharam em acolher fatos como os que estavam ocorrendo naquele dia.

Com seus olhos enormes e saltados, exalando descontrole, ele apreciava sua obra. Sentia-se orgulhoso, daquela vez havia se superado. Enquanto permanecia em êxtase pelo feito, sentia aquele vermelho e viscoso líquido escorrendo pelos seus braços, embebendo suas roupas e lambuzando todo seu corpo. Eram carícias de anjos. Tomado pela satisfação, não relutou em provar um pouco daquele láudano avermelhado. Levantou apoderou-se de uma das cabeças que jazia ao seu lado e como um sedento em meio ao deserto deleitou-se com o peculiar sabor de sangue humano. Era a primeira vez que aquele gosto tomava conta de seu paladar. Estava no auge de seu descontrole. Ou seria sua glória final?

Pensamentos desconexos desfilavam por sua mente a toda hora, sentia-se excitado em ver aqueles corpos inertes aos seus pés, completamente contorcidos e espalhados por todo o recinto. Braços, pernas, órgãos internos, não se sabia mais a quem pertenciam, A única lembrança era horror estampado nos olhos de suas vítimas, dos gritos e do barulho de seus ossos sendo separados e de seus órgãos se retorcendo e explodindo.

Atirou-se ao chão alagado de sangue como uma criança se atira numa piscina, enquanto rolava por entre o que restara de suas vítimas, sentia o cheiro pútrido da carne que, pelo calor daquele dia já começava a se decompor. As vísceras abertas ajudavam a transformar o ambiente em algo repugnante. Era como ele sonhara! Sua cólera crescia e já não mais o preocupava tentar controlá-la. Saciou sua sede, sua fome e seu sexo através daqueles restos humanos.

A tórrida tarde já havia passado, era noite e a lua estava ausente. Caiu de joelhos, cansado e resolveu que já era hora de partir, poderia utilizar a escuridão como aliada. Completamente nu e sujo de sangue partiu em direção aos fundos da casa. Cuidou para limpar os pés e não deixar pegadas. Envolto na noite, simplesmente desapareceu em meio ao bosque existente nos fundos da casa, bem oposto à forma como adentrara nela.