A advogada



A advogada

02.06.2010

Glaicy, advogada muito reconhecida pelos seus méritos, mulher de porte fino, elegantemente trajada, aparentemente calma, ninguém sequer imaginava que uma mulher desse estilo, usando os melhores perfumes, carro zero todo ano, com escritório localizado em local de destaque, muitíssimo bem equipado, pudesse estar passando por uma séria crise financeira.

Fim de tarde, os funcionários já se retiraram, dra Glaicy resolveu ficar além do expediente a fim de fazer um balanço, não só na sua vida financeira, mas no geral.

Nos últimos tempos, era de praxe, ela proceder dessa forma, estava já fechando a porta de seu gabinete, quando o fone toca.

Quem seria, seria mais um dos cobradores, ah! Meu Deus, atendo ou não, - bem melhor acabar com isso de uma vez, pelo menos estou sozinha, não teria que mais uma vez mandar dizer, que não se encontrava, fugindo de seus devedores.

- Escritório Glayce, boa noite.

Boa noite Doutora Glayce, quem está falando é a secretária da Imobiliária XY, como está a senhora.

- Glayce suspira, ah! Antes não tivesse atendido, - pode falar Karina, o que você manda.

- Sabe, oque é doutora, bem, é que ...sabe doutora.

- Ora Karina, pode falar,

- Ainda bem que a senhora entende, queira perdoar-me, mas é que o aluguel da senhora, bem o aluguel da senhora, ..eu não sei nem como te falar, mas é que o aluguel da senhora já está atrasado há dois meses, e infelizmente, o senhor XY, pediu que eu a avisasse que ele está entrando dom ação de despejo por falta de pagamento.

- Não, não é necessário se desculpar, eu entendo que estou em falta , peça para o Senhor XY, esperar só mais alguns dias, que darei um jeito, certamente as coisas entrarão nos eixos.

A bela advogada já não conseguia sequer sorrir, grande era seu desespero, já não sabia mais o que fazer, os salários dos funcionários em atraso, aluguel e outras despesas tudo por pagar.

Ah, aquele maldito do seu sócio, que a levara a falência, bem que sua mãe a havia alertado, suas amigas também, mas ela naquela cegueira apaixonada, era este o resultado, saldo negativo nos bancos, contas a pagar, o prédio que antes era seu, hoje ela paga aluguel, ainda se pudesse pagá-lo, nem isso.- ah, quanta humilhação, por um amor que sequer valeu a pena, isto sim ela chamava de burrice, burra, era o que ela era, mas lamentar não valeria mais a pena, era prosseguir, consertar seus erros e pronto.
De repente passa-lhe um pensamento, entre mil que já tivera, este parece ser a solução, repentinamente lembra de sua amiga Lucy, na última vez que conversaram, ela havia lhe dito, que seu casamento não ia bem, que talvez se separassem.

Vou ligar para Lucy, creio que seja minha salvação, não que ela desejasse o divórcio, mas se há tanto tempo já não viviam bem, até que não seria um mal negócio, afinal um divórcio litigioso, porque é claro, o marido não queria em hipótese alguma a separação no momento, somente depois que os filhos crescessem, mas pela última conversa, que tivera com a amiga, não parecia que ela fosse esperar.

E pôs-se a pensar, um divórcio litigioso com a partilha de tantos bens, seria de bom agrado, não seria o remédio eficaz, mas seria um analgésico para os primeiros socorros, e mentalmente começou a compor a partilha: uma fazenda de Gados para corte em Mato Grosso do Sul, uma fazenda de gados leiteiros em Minas Gerais, uma fazenda Goiás , plantação de café , criação de cavalos de raças, jatinho, jat-sky, e tantos outros incontáveis bens.

Bela partilha, só uma fazenda, para ela bastava, era pagar as dívidas e tocar a vida em frente, o resto se ajeitaria, ela sabia de sua beleza, certamente logo encontraria seu par perfeito e adeus miséria, adeus solidão.

Neste instante seu celular toca, era sua amiga Lucy.

- Olá amiga, estava pensando em você, que surpresa tua ligação, estou com saudade.
- É, e o que pensava sobre mim.
- Eu estava pensando naquela última conversa que tivemos, você disse que teu casamento não ia bem, então eu estava pensando - Ah eu preciso falar com minha amiga, dar alguns conselhos para ela, antes que ela tome alguma decisão errada, afinal vocês formam um par tão perfeito, e diferenças, quem não as têm, é ter paciência.

Ah, amiga, eu agradeço, mas infelizmente não dá mais, nós chegamos no limite, ele já providenciou um advogado, e já estamos dando andamento nas papeladas, o divórcio só não saiu ainda, por causa dos bens, como você sabe, são muitas as documentações, mas ele concordou, será um divórcio amigável, e em breve estarei livre, só estou ligando para te contar, afinal somos tão amigas, ah! - sabe aquela fazenda em Mato Grosso do Sul, aquela nas planíceis, onde cultivamos soja.
- ah, sim, então ela foi dada em forma de honorários.

- Mas Lucy, porque você não meu procurou, afinal somos tão amigas.

-Mas é por sermos amigas, que eu achei melhor não procurá-la, você poderia não querer cobrar um justo honorário, então achamos melhor procurar outro profissional, enfim, não quisemos aproveitar de tua bondade, e outra, você com tantos compromissos, viagens para o Exterior, enfim , é isto amiga.

O celular caiu-lhe das mãos, neste momento a advogada ficou sem chão, e pôs-se a blasfemar.

- Ora, amigos, era só o que me faltava, sequer me consultou, e eu aqui nesta situação, ora amigo é ter dinheiro no bolso.

No dia seguinte, a notícia,- a Dra Glaicy estará ausente por tempo indeterminado.

Lucy, que ficou sem entender nada, pois achara que a ligação tivesse caído, porém não mais conseguindo falar com a amiga, passou no escritório para poderem conversar.

Desta vez ela entendeu menos ainda, ora ela não me falou nada, certamente foi mais uma de suas viagem para o Exterior, afinal, bem faz ela, ainda bem que eu não a incomodei com o meu divórcio, mulher extremamente ocupada.

Meses depois, explode a notícia. - A Firma Escritório Glaicy e Cia pede a falência.




zilvaz
Enviado por zilvaz em 17/08/2010
Reeditado em 17/08/2010
Código do texto: T2442772
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