Rotina de domingo

Ele acordou, espreguiçando-se. Levantou-se sem muita disposição e foi para o banheiro. Esvaziou a bexiga enquanto tomava um banho e na cozinha preparou o café da manhã, muito café com pouco leite, pão amanhecido, manteiga e bolachas velhas.

Lá fora havia sol, que pouco atrativo teve sobre ele. Foi para a sala. Ligou a televisão e colocou no canal de esportes, nada de interessante passava naquele momento. Zapeou até encontrar alguma coisa que o atraísse. Tentou se concentrar em um filme, ou seria uma série? Já não me lembrava mais.

Pegou no chão um jornal de uma data antiga. Notícias velhas tornadas novas pelo momento. Mas não lhe chamavam atenção, até que se deparou com uma pequena notícia que o fez sentir um frio na espinha, fazendo-o largar o jornal.

O telefone tocou. Não encontrou ânimo para se levantar e atender. Queria apenas que o barulho parasse. Mas fosse quem fosse, parecia que não descansaria enquanto alguém não atendesse (e poderia alguém além dele atender?). Olhou novamente para a tela da TV, tentando não prestar atenção à campainha do telefone. Finalmente desistiram, levantou-se e tirou o fio do telefone da parede.

Sentou-se novamente na poltrona em frente à TV, olhando de soslaio para o sofá, com vontades contraditórias em relação à ele. Começou a chorar, mas se conteve...

Os segundos se tornaram minutos para então se transformarem em horas, em um processo que considerou mais lento que o normal. Por que o tempo não corre quando desejamos?

Sentiu que era hora do almoço, não em razão do relógio do vídeo cassete, mas sim pelo vazio do estomago. Foi para a cozinha. Na pia, várias panelas e pratos esperando alguém para lavá-los (alguém se habilitaria?)

Abriu a geladeira e pegou o último congelado no freezer. Lasanha. Colocou no micro ondas e esperou. Comeu na própria embalagem, deixando os restos em cima da mesa.

Voltou para a sala. Às quatro horas começou um jogo e tentou se entusiasmar com o que estava acontecendo naquele campo. Como era possível tantas pessoas estarem ali? Será que não sabiam o que havia acontecido? Meu Deus, por que tanta alegria?

Lá fora ainda havia sol, mas já se esvaindo, trazendo em sua fuga a névoa noturna. A escuridão chegou, sem que ele tivesse ânimo para acender a luz da sala. Televisão no escuro faz mal para as vistas, sempre lhe dizia seu pai.

Fui buscar uma cerveja na geladeira. Já não havia mais nenhuma. Anotação mental: comprar mais amanhã. Amanhã. Amanhã para que? Para que amanhã? Pegou uma garrafa de vinho e voltou para a sala. Na TV, sua única companheira, um filme antigo, Love Story. Parece brincadeira de alguém lá de cima. Desligou a TV, ficando no escuro, não querendo pensar no que estava pensando, mas como fugir do pensamento?

Meia-noite. Hora de dormir. Deitou-se na cama, que estava como a deixou de manhã. Pegou o travesseiro ao seu lado e o abraçou. Ainda podia sentir o cheiro dela. Quanto tempo faz? Duas, três semanas? Por Deus, como queria que ela estivesse ali com ele. Tentou odiar o motorista bêbado que provocou o acidente, mas só conseguia sentir raiva de si mesmo, por não estar com ela, por não ter ido com ela. Ela se foi, mas quem morreu foi ele.

DIMAS ROCHA
Enviado por DIMAS ROCHA em 17/08/2010
Código do texto: T2442833
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