Ave Sonora - Parte II

"Ave sonora vamos embora

Que a gaiola da nossa viola abriu cancelas

Ave sonora saiba que agora

Não a bodoque que nos coloque com quatro velas"

João Chagas Leite - Músico Gaúcho

Acordou com uma terrível dor de cabeça.

O lugar era úmido e exalava um cheiro desagradável. Um silêncio fúnebre tomava conta do ambiente. A ventilação era proporcionada apenas por uma janela minúscula que ficava em lugar muito mais ao alto do que um grito de Clara pudesse alcançar. E mesmo que alcançasse, a certeza de uma morte anterior ao socorro era iminente.

Era verdade, ela fotocopiava notícias sobre o governo e distribuía na faculdade. Era verdade, estava bem interessada na vida do presidente Médici. E também era verdade o que ela não queria acreditar: a mãe tinha razão. Havia sido pega pelo Departamento de Ordem Política e Social.

Mas era tarde demais para pensar nisto. Não conseguia nem imaginar o que a esperava lá dentro.

Um rato passou pela frente da porta, grande, pesada, de ferro enferrujado. A única abertura era uma fresta horizontal, de onde, se alguém espiasse ali para dentro, ela veria apenas os olhos.

Olhou para a minúscula janela e percebeu que se um dia chovesse, molharia tudo, pois era protegida apenas por uma grade.

Caroline Garcia Cruz
Enviado por Caroline Garcia Cruz em 28/09/2010
Código do texto: T2525871
Copyright © 2010. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.