Filhos da Puta

Pessoas vem, pessoas vão, deitada aqui neste leito, vivo as lembranças, as angustias de noites quentes e suadas. Espero a liberdade, espero viver, o que está difícil de conseguir, essas cicatrizes estão me consumindo lentamente, me castigando pelas minhas burradas.

Vejo pessoas chegarem doentes, outras quase mortas e algumas já sem vida. Aqui dentro, tudo é estranho, corredores enormes, gritos ao longe, vozes de desespero, de socorro, não vivo, estou parada no tempo, pessoas que encontro hoje, nos corredores, amanhã já não existem mais.

Estou aqui já faz um tempo, nunca acreditei na balela de que o arrependimento mata, as vezes, sinto que não vou conseguir, que meu tempo está se esgotando, mais ainda tento encontrar força para lutar, força essa que também é uma piada sem sentido.

Hoje vejo a vida com outros olhos, não vejo o céu, as nuvens, os carros, para onde olho vejo somente as paredes do hospital, que de tão enormes estimulam a minha visão, me vejo, em meus sonhos, sendo perdoada, laureada, abençoada, uma santa de cinta liga.

Acordei hoje muito mal, não estou agüentando mais, sinto falta do cigarro, sinto meu coração mais fraco, quase parando de bater. Minhas pernas estão frias, cinzas, sempre tive pernas lindas, meus dedos, dormentes, nunca mais poderei dançar, as luzes do palco se apagando, os homens não querem mais pagar para me ver, não querem mais o meu corpo, cinza e frio, acho que chegou a hora, do meu sono profundo, terei que dizer adeus a esse mundo, o meu cabelo está horrível, eu só queria os meus filhos aqui comigo nesta hora, pois todos já me abandonaram, mais eu entendo, ou melhor, tento, porque sei que foi eu quem errou, só quero ir em paz, ir logo para o meu descanso, minhas cicatrizes no pulso coçam, sei que serei esquecida pela minha família, amigos, clientes, e isso de uma certa forma, me consola um pouco, porém, queria muito pedir perdão aos meus filhos, por tudo o que eu fiz, mais eles não aparecem, ficaram mesmo, com muita raiva de mim, não deveria ter feito aquela burrada.

Juliana AP Mendes
Enviado por Juliana AP Mendes em 08/10/2010
Código do texto: T2545594
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