Sister's eye

Caíam como lágrimas naquela bacia infestada de merda recémnascida os olhos de Danuza, que fora violentada e esquartejada por seu irmão mais velho.

Edson era rapaz sábio e que sabia que sua irmã não dormiria com ele, a não ser por um bom prato de arroz e bife grelhado e batatas fritas. Ele sabia também que não tendo dinheiro para tal coisa era preciso dar um jeito diferente na situação.

Pensou em fazer apenas arroz com batatas, mas isso não iria satisfazê-la por completo. Pensou em várias alternativas, mas nada de ideia melhor que arroz e batatas fritas.

Decidiu então perguntar a seu irmão bebê que não falava o que fazer para resolver tal problema, já que desejava sua irmã, como desejara sua própria mãe.

O irmão prometeu-lhe não ensinar nada, mas que para que sua consciência ficasse tranquila após o assassinato, era preciso que ele desse um banho completo de beterrabas africanas em seu irmãozinho e que arrancasse os olhos da irmã após exterminá-la.

Foi feito por Edson tudo dentro dos conformes e, por fim, seu irmãozinho cagou toda a bosta possível dentro da bacia onde tomara banho.

Cabeças dementes rodaram por todo o espaço enquanto o medo da solidão aumentava em cada palavra dita e meditada e durante o holocausto de ideias dispersas e incuráveis.

A vontade de vomitar era tanta, que o próprio diabo se assustaria e se enjoaria de ver tanto amor desperdiçado em função de meras palavras malditas na hora exata e sempre, nada diferente, malentendidas e malacabadas.

Coração é coisa que dói, você querendo ou não. Desprezo e coisas como essa são mais difíceis de suportar do que qualquer traição. Indiferença a gente não percebe quando comete, mas os lanches e salgadinhos não oferecidos nas épocas de fome são sempre lembrados.

Dói muito coração desprezado e deixado às traças como fosse coisa boba e sem propósito. Aquele olhar infelizmente não será mais o mesmo, pois já não era e, depois de tudo, jamais poderia recuperar rumo, pois o caos determinara. Nada seria como antes e mais secos e mais duros, não desistiriam do eu por um simples amor. Paixão é coisa que existe, mas que, na verdade, nenhuma das pessoas aceita; umas são mais fracas, outras são mais fortes.

Depois de tudo que Edson comera e vomitara e lavara e cheirara por Danuza e, mesmo assim, mesmo sendo sua irmã, nenhuma trepadinha lhe era oferecida em agradecimento. Claro que Edson perdeu o juízo. Há alguma outra coisa, senão o sexo, a transa, a cópula, a vontade de ser bicho que move o homem?

Nada é mais forte do que belos seios pontiagudos e duros e tenros, macios e mínimos. Nada chama mais a atenção do que a bela anca de vaca e coisas como tetas e leites e carboidratos.

Ah! Edson estava doente e louco, não era amor. Nada é amor. O amor é uma doença com a qual temos que nos acostumar a viver e, então, vira uma rotina chata e insossa, querendo-nos, ou não.

Vontade de vomitar a cada olhar, vassourada, dor, indiferença e desprezo. O desprezo de Danuza era cortante e frio como manhãs de agosto em horas impróprias. Só queria estar ali. Quem de fato? Quem na verdade só queria estar? As coisas e pessoas se misturam e se confundem, e depois, não mais se conhecem e não mais existem.

Mas como em toda guerra, sempre alguém sobra. Sobra sempre algum mais inteiro que vai buscar em outra estrada maneira de se destruir mais ainda, a não ser que uma parte se dê conta de que é preciso ser cínico, falso e sequencial.

Não abrir mão não significa ser justo e amar não significa ser compreensivo. Nada significa, para cada pessoa a vida imprime uma significância tão tola quanto a própria vida.

Edson chamou Danuza para conversarem sobre o orçamento da casa, sobre o que comprariam de presente de natal para o pequeno irmão. Ela, sempre falsamente solícita, mas não menos tolerante, aceitou o convite e foram conversar em seu quarto. Edson abriu de imediato uma caixa onde mostrava fotos de um lugar onde gostaria de levar o pequeno irmão. Eram fotos recortadas de revistas que Edson não sabia de onde eram por não saber ler.

Danuza, como sempre, discordou de Edson, propondo a ele algo mais em conta. Um queria o todo em único instante, e o outro o para sempre de cada instante.

Edson ensandecido por ser contrariado mais uma vez não pensou duas vezes. Partiu pra cima de Danuza.

Tentou meter-lhe o pau na boca e cu, menos vagina, mas a danada fugia contorcendo-se como lagartixa em dias de calor.

Como Edson havia trancado a porta, por mais que Danuza tentasse correr, não adiantava e ele vangloriava-se já antecipado de sua vitória e gritava pelos cantos do quarto flagelando-se como era bom matar tudo aquilo que o fazia feliz, porque amor bom é amor morto. Só se está bem e feliz no amor quando este é apenas uma máscara que garante aquele tal desejo mais puro e intrínseco ao homem.

Danuza se debatia e batia com a cabeça na parede enquanto ele gritava e cada vez mais gritava. Danuza já não suportava mais chorar, mais sofrer e ele não mais conseguia fazê-la parar de sofrer, pois se tornara um vício para ele. Fato é que em toda e qualquer relação amorosa o que ocorre é que se o homem não faz a mulher sofrer e esta não se sente violada no seu direito de fazer tudo como pensa ser o certo, não seria uma relação perfeita. Ser compreensivo e amável só é possível quando se é visto como ser e não sendo algo além do impensável.

Dentre tais loucuras e outras mais que dilaceravam o crânio piolhento de Edson, não mais pode ele fazer outra coisa senão esfaquear Danuza até que nada mais restasse de sangue em seu corpo imperfeito e velho já carcomido pelos homens e pelos anos.

Decidiu Edson postumamente arrancar-lhe os olhos, visto que seu ciúme ultrapassava as barreiras da morte. Não permitiria que a alma de Danuza olhasse nem para o diabo, sendo que o senhor cristo não lhe daria ideia, por estar muito consternado com as guerras em sua terra de nascença.

Caíam não só os olhos, como também, as lágrima de Edson naquela bacia infestada de merda recémnascida, logo depois oferecida aos mendigos, enquanto Edson e seu irmão bebê partiam de trem para a ilha de Madagascar.

Raul Furiatti Moreira
Enviado por Raul Furiatti Moreira em 13/12/2010
Código do texto: T2669084
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