Reencontro

E mais uma vez lá estava ele. Todo mês de maio era a mesma coisa. Viagem de negócios, vinte dias fora, desaparecia. Deixava sua linda esposa e seu escritório luxuoso aos cuidados do sócio. Pegava aquele velho jipe vermelho, que só ele sabia que existia e onde era guardado e saia sem nenhuma coisa que lembrasse ou indicasse a vida abastada que ele tinha. Quem o visse diria ser um fudido, e era assim que gostava de parecer. Um comum, igual ou pior que os demais.

Sentado naquela cadeira vermelha de metal carcomido, que tinha uma marca de cerveja nacional pintada no seu encosto. Um cigarro pendia em umas das mãos, enquanto a outra segurava um copo meio cheio de cachaça de tom amarelado em cima da mesa, como se o mesmo pudesse sair correndo dali sozinho. Eram quatro horas da tarde no sertão e o sol começa a dar descanso ao povo daquele lugarejo esquecido por Deus. A única coisa que o mantinha ligado ao resto do mundo, era a rodovia federal que passava no meio dele como se o quisesse dividir. Debaixo daquela coberta de palha na porta do Bar, ele podia ver de tempos em tempos um caminhão rasgar a vista como se interrompesse uma prece silenciosa. Do lado de dentro do minúsculo bar, as duas putas conversavam despreocupadamente sobre a escassez de clientes e de como era difícil se sustentar hoje em dia. A carne de porco fritava dentro da frigideira, provavelmente imunda e cheia de óleo, que era usada para preparar todo tipo de tira-gosto para a clientela do lugar. O odor doce saturado do perfume das mulheres e o da fritura da carne se misturava à catinga de mijo que vinha do banheiro da espelunca.

Ele amava tudo aquilo, era como se aquele fim de mundo lhe pusesse mais próximo do que realmente acreditava ser, um nada, um mero joguete nas mãos de algum deus.

Gostava de sair sem rumo procurando algum cafundó miserável onde pudesse passar noite e comer alguém. Procurava sempre os de pior aparência, quanto mais pobre, melhor. Comia em mosqueiros como aquele todo dia. Tomava cachaça como quem o faz por necessidade, como se dela o prazer fosse sorvido. E as putas? Aquelas lhe eram por demais saborosas, sempre disponíveis e cálidas. O prazer que sentia com elas era tamanho que se imaginava no paraíso cercado de virgens. Preferia dormir em camas de varas, forradas com colchão de palha quando era possível, caso não tivesse usava a sua rede de cipó trançado no seu descanso.

E todo mês de maio era a mesma coisa, rápido ele sentia o tempo passar e já tinha que voltar a sua vida de homem rico. Nem sabia porque o fazia, achava sempre que o seu lugar era ali, no meio daquele povo sofrido. Ali se sentia mais vivo, mais humano que em qualquer outro lugar do mundo que já tivesse ido, e sempre ficava com a sensação que no próximo mês de maio sairia de viagem e nunca mais voltaria. Voltava sempre aos sábados, assim teria tempo suficiente para preparar o seu sermão que seria feito no domingo na igreja da qual era austero pastor.

Hugo Eduardo
Enviado por Hugo Eduardo em 19/10/2006
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