Por uma benção

Ali pela frente do bolicho corria uma prosa de um tordilho afamado por entre a peonada, que por malino pateava os ferros e depois de sacar o ginete dos bastos pisava por cima do vivente, mas quando o índio era bueno se bolcava de lombo pra se matar e acarcar o ginete.

Mas também corria pelo pueblo, que Don Inácio tinha topado a parada com o tordilho que pateava os ferros de todo ginete que tentava a sorte. Mas pra todo o malino sempre existe um mais taura, seguindo a lei do mundo.

Até o vigário Adelino se veio pra o galpão de Don Inácio pra dar a estremução por causa do tordilho malino, que Don Inácio e ton forte pra o vigário que não ia precisar e que era bueno de basto, mas queria que desse uma benção depois pra o tordilho que ia fazer um cavalo de lei pra todo serviço, que firmou a aposta o vigário Adelino com ressabios pra o domeiro.

No pueblo corria a prosa, uns acreditavam outros descordavam e achavam loucura do Inácio montar no tordilho. No bolicho do seu Romualdo uns apostavam no tordilho, outros charlavam que nem ia perder plata que o tordilho ia matar mais um, outros jogavam os pilas no Inácio.

Don Inácio era homem bueno de basto desde guri de galpão, charlavam alguns mais antigos da linha que parecia um pelego atado sob os bastos, que nem tinha saído bem dos cueiros já montava melhor que os peões. Mas até entre as carolas da igreja achavam que era milonga do Don Inácio, que tinha aceitado pra fazer fama e aparecer pra os outros. Também nas bocas, o chinaredo corria a prosa da montaria no tordilho, que charlavam que era um duelo de duas almas xucras de campo.

No domingo depois da cesta na cancha do Coronel Belizário, tava reservada pra Don Inácio e o tordilho manoteador e boleador, que numa das mangueiras posou no trato fino dado por o próprio Don Inácio. As carolas e até todo o chinaredo veio das bocas pra ver a rodada e rir do domador, o vigário Adelino rezava com toda força pra não morrer o ginete num rosário preso a batina.

Na chegada de Don Inácio que veio em uma zaina buena dos seus arreios foi até ele o vigário charlando pra ele desistir da ginetiada que ele já era bueno suficiente pra si e pra o pueblo, e que aquilo era loucura dele!

Mas Don Inácio lembrou da aposta da benção e ainda charlou que era forquilha das buenas nos bastos, e que o tordilho ia ser um cavalo de lei, e ia pedir benção pra ele.

Já desencilhando os bastos da zaina negra que escarvava com mãos o chão pedindo boca e se fue pra cancha junto com o moreno Juca que já tinha embuçalado o tordilho a muito custo pela mangueira que por um manotaço do tordilho quase pegou o moreno perto da cerca livrando o corpo ligeiro.

Inácio atou bem as garras bem forte nos tentos bem sovados da lida na botas de potro, tirou a faca pra não ter perigo de se machucar ou perder colocando entregando pra o vigário, tirou um bocal bem arrumado de couro de tamanduá por o negro guasqueiro de atado no tentos de seu basto. Ajeitou o lenço com tempo e calma e fue atar o bocal no tordilho reservado pra ele no palanque com o moreno Juca com o cavalo rosilho bem encostado no tordilho sentado nas cordas com a cara coberta por uma badana dos bastos do Inácio.

O moreno com o cavalo encostado e ele nas suas cismas de domeiro antigo perguntou se era a pelo ou de bastos, Don Inácio com cara de má resposta com um sobreiro quebrado nas duas abas bem cima e um florão de prata com uma flor que guarda seus recuerdos, nem respondeu e pulou a pelo mesmo, só no bocal atado em rédeas de couro ponteado com corações nas pontas...

O moreno charlava que era loucura dele montar a pelo, assim...

Inácio já enforquilhado no malino só mirou com olhos malinos pra o moreno que em silêncio ficou, mas mesmo assim charlou.:

-Se morrer, morro floreando as garras em um malino.

-Monto pra esquecer de uma estrela madrugueira!

Cortaram os ferros numa pegada bem pra cima trazendo Inácio garreando junto as paletas bolcando pra o lado entre o palanque e cavalo do moreno. Na saída o pueblo silenciou, mas ele só deu o corpo na bolcada que levantou junto floreando as garras que o tordilho saiu levantando toca, metendo a cara nas mãos, pedindo peleia forte.

Don Inácio balanceava o corpo traz e pra frente grudado no lombo sorrindo pra o nada que via. O vigário rezando pra que rodasse logo, pra no morrer o amigo...

Enquanto pela cancha parelha pra índio que firma a perna iam ao no mesmo espaço brigando dois malinos e que só o mais taura vence. O pueblo aos gritos de força e de roda de um outros pela cerca, enquanto o tordilho mandava lombo com força e quando se ajeitava pra bolcar Inácio floreava o mango bem na volta do pescoço. Que se fora brigando um firmando nos pulso e nas pernas e outro querendo a morte.

O moreno no rosilho ia por perto pra tirar na hora certa, depois de um tempo o tordilho bolcou denovo quase pegando Inácio de jeito que ficou por debaixo do pescoço por se ligeiro. E quando o tordilho levantou o pueblo já esperava que Don Inácio tinha se ido.

Que até o vigário gritou de susto.:

-Meu deus! Morreu.

-Mas não fue dessa vez seu vigário!

Gritou uma das chinas que o tordilho forcejou pra levantar e o Inácio se vinha junto ao lombo já calçado as esporas nas paletas do malino, já meio cansado e lavado de suor pelo corpo dele e do potro.

Então numa ultima tentativa perdida e sem medo o tordilho bolcou por cima da cerca acarcando o ginete, que perdeu até o lenço negro que voou bem pra cima prenunciando o pior pra o ginete e cavalo, mais uma vez o pueblo silenciou esperando juntar os cacos o moreno Juca sofrenou a toda, sem tempo de meter o cavalo pra livrar da cerca o domador...

Se acarcaram ginete bagual que polvadeira subiu e depois levantou o tordilho e pueblo não acreditando na mirada que viam, Don Inácio levantou junto floreando as garras arrodiando o mango ainda com cansaço aparente.

Gritou Don Inácio.:

-Aqui tem forquilha!

O vigário nem suspiro de alivio vendo Don Inácio muntado no tordilho que saiu carreiriando pela cancha nem acreditou, nos seus olhos. Que sofrenou o tordilho no bocal bem aroxado no queixo e cruzou a perna puxando o tordinho sereno. O moreno Juca chegou do lado e só charlou.:

-Fue linda a ginetiada!

E saiu ao trote da cancha. Don Inácio levou de tiro o tordilho reservado pra enfrenar até a saída do verão. Que depois de bem manso e pronto pra o serviço cruzou o posto bem muntado no tordilho pra cobrar a aposta, com o vigário Adelino na capela da vila.

Mandou um guri coroinha chamar o vigário pra fora pra ver, quando ele chegou Don Inácio montado fazendo o tordilho pedir bênção pra o vigário que nem acreditou na hora na vista cassando os olhos pra acreditar.

Ouvindo Don Inácio gritar.:

-Aqui tem forquilha, nos bastos!

Ginete
Enviado por Ginete em 27/12/2010
Reeditado em 28/12/2010
Código do texto: T2694786
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