SAUDADE...MUITA SAUDADE-PARTE I

Era verão. O sol ardia lá fora.

Uma bela piscina nos fundos da casa, rodeada de flores que ela gostava tanto, parecia que a convidava a mergulhar nela, mas ela não sabia nadar, e, mesmo que soubesse nada a atrairia, porque nada a motivava, sentia-se fraca e sem vontade de nada.

Ultimamente, raras foram às vezes que ela entrara naquela água tão bela e que estava ali ao seu alcance. Nada a distraía. Tudo parecia obscuro em sua mente.

Ela sempre fora uma mulher batalhadora, que enfrentara tanta coisa na vida e agora se via como uma estátua que não tinha coragem para nada, nem mesmo para viver.

Os remédios fortes que ela tomava para dormir e melhorar a angustia que ela sentia no peito e que há consumia cada dia mais, a deixavam absorta durante quase todo dia, e, assim ela cada dia que passava, sentia-se mais só.

Os amigos de outrora, quando sua vida era cheia de pompas, comida farta e bebidas a vontade distribuída à beira da piscina agora já não vinham mais, porque não podiam mais tirar vantagem da sua situação financeira e assim, sumiram todos.

Ela sentia-se cada dia mais triste e solitária.

Com olhar perdido no horizonte, ela todo dia se lembrava da linda menina que fora um dia. Uma menina cheia de vida, de expectativas, sonhos e estripulias.

Sempre fora muito inteligente e sagaz. Percebia e aprendia tudo com muita facilidade. Sempre estava atenta a tudo e a todos. Ela não conseguia entender o porquê daquele medo de tudo que ela sentia, pois fora criada na fazenda, nadava nos rios, mesmo quando chovia e a água ficava escura, pescava e andava a cavalo sem ter medo de nada.

Não fora criada com luxos, mas nunca lhe faltou nada do necessário e por isso ela via alegria e beleza em tudo e não tinha grandes ilusões, mas seus pequeninos sonhos, para ela eram muito importantes, como ter uma saia de crochê vermelha que uma amiguinha tinha e ela não podia ter, mas ela sonhava em ter uma saia daquela, até que sua mãe um dia conseguiu comprar.

Era um sonho realizado.

Ia para a escola rural, ajudava a mãe nos deveres de casa. Ela não tinha brinquedos, mas nunca lhe fez falta, porque brincava com o que tinha e se divertia muito, brincando com suas irmãs maiores com bonecas de milho. A dela era sempre morena. Sua irmã mais velha sempre preferia a loira.

Quando alguma amiga de sua mãe vinha visitá-la e que tinha um filho menino, iam jogar bola que era feita de meias e roupas velhas que enchiam a bola e assim, ela se divertia até jogando bola. Coisa de moleque, dizia sua mãe, sempre rindo das artes que ela fazia. Subia nas árvores frutíferas com uma rapidez, que parecia um macaquinho, ágil e rápido.

Como sempre fora precoce, ela aprendera desde cedo observar a natureza, a lua e as estrelas em todo seu esplendor. Ficava admirada e queria entender como as estrelas ficavam pregadas no céu e nunca caiam.

Ainda menina, deitada em sua cama que ficava bem defronte de uma janela no seu quarto, ela observava o céu todos os dias e até a noitinha, até que sua mãe vinha fechar a janela porque já era noite, dizia ela, carinhosa como sempre fora com todos os seus filhos.

Sua mãe jamais imaginara, mas quando fechava aquela janela, fechava também uma parte dos sonhos daquela menina que toda vez que olhava o céu, sempre pensava que um dia ela teria um pedaço daquela maravilha, porque visto de sua cama, o céu parecia caber dentro da sua janela, mas conforme ela ia se aproximando da janela, o universo inteiro se abria numa explosão de tamanho que ela se assustava, mas mesmo assim ainda acreditava que um dia, poderia tocar as estrelas, ou pelo menos um pouquinho delas, ou quem sabe, pensava ela..um pedacinho do próprio céu azul que se perdia no horizonte.

Agora, voltando ao momento presente ela via que aquela menina, que cresceu, tornou-se uma bela moça e sempre fora decidida e encantadora, não existia mais.

A dor no seu peito aumentava ainda mais, quando ela pensava em que momento ela se perdera de si mesma...

Onde estaria aquela mulher que brilhava em outros tempos?

Ela se questionava, e como se quisesse punir a si mesma, por algo que nem ela sabia o porque, ela cada vez mais ia se isolando de tudo e de todos.

Ela sentia saudade. Muita saudade daquela pessoa que ela fora um dia. Sentia sua vida vazia, não tinha ânimo para nada, não sentia vontade nem de entrar naquela água azul da cor do céu que ela quisera tanto ter um pedaço um dia.

Continua...

Neusa Staut

08.01.2011

Neusa Staut
Enviado por Neusa Staut em 08/01/2011
Reeditado em 10/01/2011
Código do texto: T2717258
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