SAUDADE...MUITA SAUDADE- PARTE II

continuação...

Agora ela estava ali, sem saber o que fazer ou para onde ir. Não via saída para nada, logo ela que sempre via uma saída para tudo e para todos. Tudo e todos recorriam a ela, a sua disposição e ajuda para ver todos sempre bem.

Agora era ela que precisava de ajuda.

Ela era a terceira filha de um simples casal de camponeses que tiravam seu sustento da terra. Tudo que comiam era o eles mesmos plantavam e criavam. Seu pai tinha uma grande criação de porcos, o que fazia com que ela e suas irmãs ajudassem sempre nos afazeres domésticos da mãe, porque esta ajudava o seu pai em tudo, inclusive nos serviços da roça.

Fora para a escola antes de completar sete anos, que era a idade para se ingressar no aprendizado, visto que naquele tempo, e principalmente nas escolas rurais, não existia maternal, pré-escola, jardim e etc..era direto no primeiro ano, como assim era chamado.

Quando suas irmãs mais velhas saiam para irem a escola, ela ficava chorando e não entendia porque ela não podia ir junto. E foi assim, que sua mãe pediu para a professora que a aceitasse na escola, mesmo sem matrícula, e assim ela foi aceita no meio de toda aquela criançada, do primeiro ao quarto ano. Era apenas uma professora para todas as séries.

A professora era baixinha, brava e só andava de saltos altos. Foi ali, que ela começou a amar sapatos. Ficava pensando que um dia, ela também teria muitos sapatos, todos altos e belos, como da professora que se chamava, Dona Emilia.

Assim foi que ela rapidamente aprendeu a ler e escrever, o que para ela era um sonho, porque quando ia à cidade, uma vez por mês com mãe que ia comprar as coisas que não produziam, ela ia lendo tudo que via pela frente e se sentia a criança mais feliz do mundo em poder ler para sua mãe, que era analfabeta.

Voltou seu olhar perdido para a palmeira que rodeava a piscina e pelas folhas que balançava, ela avistava o sol que tantas vezes a bronzeou, indo embora, se escondendo atrás das nuvens e pensou que talvez até o sol, estivesse triste com ela, por ela estar se esquecendo de quem era ela.

Ela sentia uma tristeza imensa, uma dor insuportável. Não uma dor visível, mas uma dor na alma, que a corroia por dentro e fazia-a sentir um desespero e uma sensação de morte aterradora.

Na fase da adolescência,na verdade ela não tivera adolescência, passara esta fase apenas trabalhando e nunca soube o que era ser adolescente.

Seu sonho era viver na cidade, para continuar seus estudos que havia sido interrompido quando ela terminara o primário.

No início do quarto ano, D. Emilia se aposentou e deu lugar a uma nova professora. Uma mulher alta, elegante, educada e muito fina. Ela a admirava. Tinha um sorriso belo e calmo.

Quando terminou o ano, ela estava com apenas dez anos de idade e a professora que se chamava D. Maria Lucia, foi falar com os pais dela, explicou a eles que ela não tinha filhos, e que gostaria muito de levá-la para viver com ela e o marido na cidade, para que ela pudesse continuar seus estudos, dizendo aos pais da menina, o quanto ela era inteligente e, que era um pecado ela parar os estudos, pois era muito determinada e que tinha um belo futuro pela frente.

É claro que os pais dela não deixaram que ela fosse. Assim, cada dia que passava, ela sentia mais vontade de ir viver na cidade, para continuar seus estudos, ela sempre acreditava que um dia, ela voltaria a estudar.

Depois de seis longos anos, seu pai conseguiu comprar uma casa na cidade e eles se mudaram para lá. Mesmo com todas as dificuldades que passava, ela correu a escola para tentar se matricular na quinta série, contava já com dezesseis anos, e, foi assim, no meio da criançada muitos mais jovens que ela, que voltou a estudar, sempre com muita fome de aprender tudo.

Na sexta série, participou e venceu com honras uma maratona de português, matéria que sempre a encantou. Aprender falar corretamente sua língua, era algo fascinante.

O sol já ia embora, deixando-a ainda mais solitária, suas lembranças lhe traziam uma enorme saudade de tudo, daquela menina tão sonhadora, que viveu uma vida tão simples, que sempre passara dificuldade na vida e que agora, tinha tudo, mas ao mesmo tempo, não tinha nada, só um enorme vazio que dilacerava sua frágil alma.

A saudade de quem ela fora um dia..gritava em silêncio...

Continua...

Para entender este texto,,,clic no link abaixo para ler a parte I

http://www.recantodasletras.com.br/contos/2717258

Neusa Staut

11.01.2011

Neusa Staut
Enviado por Neusa Staut em 10/01/2011
Reeditado em 10/01/2011
Código do texto: T2720475
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