O SENHOR QUE ME PINTOU

Ele era um senhor lindo!Tinha olhos verdes, mais de sessenta anos, se vestia muito bem, gostava de conversar.

Morava no oitocentos e um, sempre o via andando para pegar o metrô, apertava o passo e falava com ele, eram papos agradaveis, sobre tudo, atualidades, artes, música, ele sabia muito de música erudita, na sua juventude tocara em uma orquestra sinfônica, gostava de pintar quadros, em fim era um artista.

Eu o admirava muito, cheguei até a fantasiar um romance com ele, ficava a imaginar como seria, deixá-lo tocar meu corpo, mas isso não ocorreu porque mamãe estava sempre na minha cola, e também ele poderia ser preso, afinal eu só tinha doze anos.

Um dia de descuido da mamãe, fui até seu apartamento, toquei sua campanhia, ele atendeu só de bermudas, um avental todo sujo de tintas, ele estava trabalhando em uma tela enorme, quis entrar pra ver, ele permitiu, olhei bem seu trabalho e fiquei encantada.

Ele perguntou se eu queria posar para ele? Respodi que sim, ele puxou uma tela menor e iniciou, fiquei lá em uma pose durante horas, por fim ele pediu que lhe mostrasse meus peitos que estavam nascendo, sem a menor vergonha, tirei a blusa e o deixei pintá-los, foi um momento mágico na minha vida. Quando ele acabou ele me agradeceu e me ofereceu um presentinho. me deu um beijo no rosto e abriu a porta, sai de lá feliz, eu estava eternizada em uma tela.

Nunca contei a ninguém esse fato, e a vida seguiu, eu estudava e ele trabalhava todos os dias. Tinha sua namorada, que sempre ia ao seu apartamento, e dormia lá. Eu ficava vigiando para ver a hora que ela ia sair...

Ele era o meu primeiro amor, mas eu sei que nunca ia acontecer de verdade, eu não era pra ele.

Um dia perguntei ao porteiro, e fui informada que ele havia se mudado; nunca mais o vi. Hoje o tempo já passou, eu cresci, amei outros homens, casei. Mas em meu coração ainda vive aquele amor de menina...Será que ele morreu? Será que se lembra de mim? Será que me desejou?

Em um hospital no outro canto da cidade, há um senhor a beira da morte, com sua família a sua volta, ele sorri, e morre feliz, pensava naqueles peitinhos de menina que pintou, e nunca tocou.