Desejo da Noite

Já era bem tarde. A escuridão dominava o quarto na mesma proporção que as sombras cobriam a rua. Ao olhar pela janela, luzes pequenas no alto dos postes, como se ajudassem nessa profunda melancolia que me cercava em um pequeno quarto, um cubículo, uma caixa, obscura, negra, fria, sedenta, minha mente. O vento quer me fazer companhia, mas o vidro é minha barreira, muito obrigado, mas de frio já basta meus lençóis. Tão envolventes quanto um veneno que se espalha é a sensação de virar-me para o lado, ouvir o barulho do relógio que como uma espiral rodeia minha visão. Você está atrás de mim? Ah, não, são as gotas que continuam caindo da torneira, logo abaixo. Gotas queridas que tocam sua melodia para acalmar minha noite. Meu bem, você chegou.

-...

-Por favor, minha querida, deite-se.

O seu toque amassa a roupa de cama, reflete a sombra daquele canto, me segura com seu frio. Frio tão discreto, corrompe minhas veias, afunda em desejo, como uma chama ardente, a escuridão e sua face, a solidão e o seu preço.

-Se aproxime, desejo forte, eu te quero, você me completa, se eu te odeio, é porque você me observa, meu desejo maior! Eu quero você! Apenas você!

-...

Não podia enxergar, mas podia sentir. Num sutil toque, a vontade me tomou. Já sentia teu corpo, em contato com o meu. Suas pernas brancas e lisas já eram minhas. E se com minha boca, por seu corpo eu me perdia, eu sabia que por dentro, seu sangue me consumia!

Já não éramos dois, mas sim apenas um, enrolados como um nó, com uma força insensata, eu estou em você.

-Arranha, arranca meu corpo, ele é todo seu. Desejo dos meus sonhos, eu te quero mais que a mim. Quero sentir essa dor que você me dá. Seu toque feminino, seu corpo a me dominar. Ah.

-...

A sensação ia chegando e chegando. Eu estava nela. Em minha moça da pele branca feito algodão, dos olhos negros feito trevas, da boca cortante feito uma navalha. Me dê seu corpo. Ah! Pronto. Tive minha sensações.

-Onde você vai?

-...

Você se afastou, meu quarto voltou a ficar vazio. Ah sim, já são 4 da manhã, como a lua está bonita. Acho melhor agarrar você, meu bom amigo travesseiro... Ainda tenho algumas lágrimas para espalhar...

Gustavo B
Enviado por Gustavo B em 19/02/2011
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