Egocentrismo

Alta madrugada e ela não conseguia dormir. Estava acostumada com a insônia, mas geralmente não vinha acompanhada daquela sensação... Um desconforto estranho invadia sua alma vazia... Sua vida andava uma grande porcaria mesmo! Para que dormir, para que comer, para que respirar? Trágica. Uma menina boba e trágica, tragicamente boba... Amargando decepções na calada da noite.

E pensar que alguns anos atrás ela ainda era uma criança, uma criança despreocupada e feliz... Agora percebia o quanto ela havia mudado, o quanto sua alma murchara com o tempo, com a falta de cuidado dela própria... O quanto abrira mão do que era importante por coisas supérfluas, o quanto esquecera pessoas valiosas por companhias inúteis... E aqueles velhos sonhos, aqueles belos absurdos? Seus sonhos sendo esmigalhados deviam ter interrompido o sono leve de mamãe. Que bobagem! Sonhos estilhaçados não fazem barulho...

Ninguém se importa, ninguém verdadeiramente se importa! E por que deveriam se importar afinal? Ela também não se importava com o sofrimento alheio. Como é egoísta o ser humano! Ela era o maior exemplo de egocentrismo que conhecia, não seria hipócrita de negar a própria natureza falha, ou a própria falha da natureza, que seja...

E que diferença faria afinal todo aquele devaneio sem sentido, aquela agonia desnecessária? Se pudesse gritar, contar ao mundo, ser abraçada, confortada, consolada com palavras de apoio idiotas, que diferença faria? Sofreria calada, como sempre fazia. Digeriria o amargo lanche da decepção sem reclamar. Dor não é um sentimento que se possa compartilhar. E toda dor é egoísta.

Nicole Ayres
Enviado por Nicole Ayres em 25/02/2011
Código do texto: T2813383
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