Na cabeceira (EC)
 
São poucos os contatos que tenho,   contatos pessoais. Pouca gente vem aqui, nem mesmo o correio chega com regularidade. Então é comum que me digam, quando têm oportunidade – como você agüenta tamanha solidão? A resposta é simples – eu não sinto essa solidão.
 
O contato humano é para mim a coisa mais importante da vida, mas existem muitas formas de contato. Eu posso estar cara a cara com as pessoas e não conseguir me comunicar com elas, mas posso estar a distância de anos – luz e conseguir fazer contato. Aprendi isso desde pequena, assim que descobri o mundo fascinante dos livros, o mundo da palavra escrita. Nunca mais fiquei completamente sozinha. Foi com eles que aprendi a conhecer a mim mesma e também a natureza humana. Assim é que,  o fato de viver sozinha aqui nessa cidade abandonada não significa exatamente que eu não goste de gente. Gosto sim e estar aqui, nessa situação, é puramente circunstancial.

Tenho amigos espalhados por esse mundão de Deus. E aqui, em minha cabeceira, está o livro que me faz companhia há um bom tempo, espantando a solidão: recebi de presente de Natal de minha amiga Eve. Demorou um bocadinho para chegar, não sei os caminhos que percorreu, mas desde que está aqui, está sempre também ao alcance de minhas mãos e de meus olhos.
Clarice na Cabeceira trouxe para junto de mim o mundo de Clarice Lispector – é uma coletânea de alguns de seus contos, organizada por Teresa Montero. O que ele tem de diferente é explicado pela própria organizadora:”É um livro de contos selecionados por leitores”. Assim, não é só Clarice e seu mundo interior que me fazem companhia. É também o mundo de cada um de seus leitores especiais, a quem Clarice fez companhia em muitos momentos de suas vidas. São vinte e três histórias e vinte e três leitores . Na contra capa foi colocada uma frase da escritora: Escrevi livros que fizeram muitas pessoas me amar de longe”.  Também na contracapa está a conclusão: Esta seleção de contos é uma prova disso. 


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