Planetas interligados: desabafo e solução

Esse poderia ser mais um dia semelhante a alguns dias vividos. Já passava das três da tarde, Dante caminhava apressado, seus passos eram fortes, parecia que iria quebrar o chão; olhava pra frente sem se quer desviar o olhar, e seu rosto mostrava que estava insatisfeito com algo que estava preso na sua garganta. O celular toca:

-- Desculpe, eu sei que estou atrasado, aconteceu um problema, mas já estou a caminho, ta bom? Beijos...

Dante desliga o celular e se apressa mais ainda. A rua estava movimentada, várias pessoas circulando, camelôs gritando seus produtos, evangélicos e distribuindo panfletos chamando pra visitar suas igrejas. Mas para ele nada disso importava. O que ele mais queria naquele momento era chegar logo ao encontro de Astride.

Parada na entrada do shopping, lá estava ela, linda como sempre, parecendo uma modelo embora não fosse tão alta; estava um pouco impaciente, olhou chateada Dante vindo de longe, este por sua vez, esbolçou um largo sorriso.

-- Oi anjo, desculpe a demora, é que...

-- Não precisa se desculpar... Imprevistos acontecem._ corta-o, Astride

-- Ah, mas não era pra acontecer justo hoje. _ diz Dante, chateado

-- Calma, benzinho, agora estamos aqui, pronto. Vem cá, me dá um beijo?

Dante beija o rosto de Astride, que lhe dá um abraço.

-- Então, vamos entrar?

-- Claro que sim, gatinho._ diz Astride apertando as bochechas de Dante.

Os dois entram e vão direto pra escada rolante. O shopping estava lotado apesar de ser véspera de carnaval; as lojas todas elas num entra e sai de pessoas bem movimentado.

Dante e Astride entraram numa lanchonete situada no meio do segundo piso. Ela pega o cardápio, enquanto ele fica olhando pro tempo.

-- Ei, tem alguém ai?

-- Desculpa, to meio aéreo...

-- Eu sei que você ta aéreo, daqui a pouco vai voar _ diz Astrindo, rindo_ vamos escolher o que vamos comer e já, já, falaremos do seu problema. Vai querer o que?

-- Hum, deixa eu ver?.. Eu vou querer um suco de maracujá.

-- Suco de maracujá? Cuidado não dormir, hein?_ ri Astride.

-- Eu deito no seu colo se eu for dormir.

-- Ah, ta bom que eu vou deixar. Te coloco no chão_ ri Astride_ bom, eu vou querer um suco de morango. Que tal uma pizza de calabresa?

-- Claro, pode ser.

O garçom se aproxima e Dante faz o pedido.

-- Amigão, por favor, um suco de maracujá, um suco de morango e uma pizza grande de calabresa.

-- Anotado. Mais alguma coisa? _ pergunta o garçom.

-- Não, por enquanto é só isso. _ diz Astride

Dante continuava com o olhar perdido e com o rosto expressando revolta. O que estaria em seus pensamentos? Astride ficou observando-o tentando imaginar o que estaria em seus pensamentos, mas ela não conseguiu.

-- Eiiiiiii! Acorda, Dante. Me diz ai, o que aconteceu?

-- A pior coisa que tem é discutir com a mãe, nossa! Hoje ela veio inventando coisas que eu nunca fiz.

-- Tipo?

-- Ah ela acha que tenho inveja do meu irmão e que reclamo até do copo que lavo. Porra, eu lavo louça ajeito as coisas dentro de casa e ela ainda me chama de injusto..

-- Não ligue pra isso, ela deve ta num mal dia, só isso.

-- Pô, ela sempre pega mais pesado comigo em tudo, fico puto com isso!

-- Entendo sua revolta... Quem dera eu ter mãe pra poder discutir sobre coisas bobas por causa de um copo ou uma louça.

-- Tudo vem pra cima de mim._ diz Dante, revoltado.

-- Calma, Dante. Todo mundo acorda num mal dia e ai desconta em quem está mais próximo. Já vivi situações parecidas, tipo, quando eu morava com a minha madrasta, eu discutia muito com ela, aí, ela ia contar pro meu pai, aumentava tudo e ele ainda ficava do lado dela, isso me chateava muito. Até que me deu à louca e resolvi morar sozinha e todos os problemas acabaram. Se você se acha bom o suficiente, por que não faz isso?

-- Não to reclamando, sei que morar sozinho é punk, eu só to desabafando...

-- Eu te entendo, gato.

-- Mas é que eu fico muito puto quando ela cisma comigo do nada. Eu cheguei da academia, e tava me arrumando pra vir te ver, aí, ela começou a reclamar que eu acordo tarde que eu não faço nada, diz que vai morrer, que se ela se for agora, eu to fudido; não vai me ver brilhar na minha carreira de ator, pô... Parece que ela quer morrer.

-- Ah quando isso acontecer não liga, entra por um ouvido sai por outro...

-- Aí, eu fui tomar banho, ela continuou falando, falando; eu sai do banho, ela continuou. Então, eu parei de me arrumar e comecei a debater.

-- Não liga, continuava se arrumando e não falava nada. Não dê atenção, ou melhor, da próxima vez que isso acontecer, você concorda com ela e depois pergunte no que deve mudar. Isso iria quebrar ela.

-- Se ela falasse direito, tudo bem, mas não, já vem quase gritando. Tem certas horas que dá vontade de mandar umas...

-- Posso te contar um segredo sobre as mulheres?

-- Sim

-- Mas antes me responda... Quanto tempo sua mãe está sem namorar? Pelo que você me falou, ela se casou de novo depois que ficou viúva de seu pai, não é?

-- Sim, sim. Tem uns 10 anos que se separou e não teve nenhum outro relacionamento.

-- Então, quando a mulher fica carente, tem esses espasmos de raiva, precisa desabafar com alguém, mas ela não vai se sentir a vontade falando com os filhos e nem talvez com as amigas. A coisa se acumula de tal forma que o tesão acumulado sobe pra cabeça. Uma colher fora do lugar já é motivo pra briga, então, o melhor que vocês fazem quando ela tiver assim é sair de casa.

-- Foi o que fiz, sair de casa._ ri Dante.

-- Até que enfim esse menino sorriu! _ diz Astride apertando a bochecha de Dante.

-- Só você mesma pra me deixar animado, estou me sentindo até mais leve

-- Ainda bem que não precisou ir ao banheiro._ ri

O garçom chega com a pizza e os sucos.

-- Já que você desabafou, é minha vez agora de desabafar, afinal eu não iria fazer você se deslocar de longe pra vir olhar apenas para a minha bela aparência...

-- Ah que isso, Astride, você está linda! Tenho certeza que todo mundo aqui pensa igual a mim.

Astride era uma mulher que chamava atenção por onde passava; sua pele era branca como a neve, seus cabelos eram pretos bem lisos; tinha o que muitos chamam de “ corpão “, pois malhava bastante e a parte de sua anatomia que mais chamava atenção era os seus seios volumosos; tanto homens quanto mulheres ficavam fascinados por sua beleza. Com Dante não era diferente, mas ele sabia se controlar e conseguia separar a amizade do desejo carnal.

-- Eu sei que sou linda..._ diz Astride, que dá uma sonora risada ao ponto de deixar Dante sem graça. _ Não me olhe assim, Dante, você sabe como eu sou e sabe muito bem que adoro mexer com os meus amigos.

-- Sei disso muito bem. Você é tão enigmática...

-- Hum, pentelho... Você é mais do que eu. Mas, como eu estava te falando. Eu também preciso desabafar. Tipo, eu não fui nem me encontrar o Maurício hoje, inventei uma desculpa, disse que ia sair com a Natália... Olha, Dante, tem duas coisas que estão me incomodando muito.

-- Quais?

-- Eu não sei como vou te dizer isso...

A alegria que estava no rosto de Astride desaparece. Seu semblante agora é de tristeza, mas ela contém as lágrimas, não as deixa vir. Dante segura forte na sua mão.

-- Dante, eu descobri que estou com câncer no ovário e como se não bastasse, a Natália ta com depressão porque ela pegou o noivo na cama com a irmã dela, deu um golpe na conta bancária dela levando cinqüenta mil reais que os dois tinham juntado pra se casar e sumiu do mapa. Agora, ela ta pensando em se matar...

Dante levanta de sua cadeira e abraça Astride fortemente; ela continua sentada imóvel aceitando o carinho de seu amigo. Dante acaricia seus cabelos e lhe dar um beijo na face.

-- Olha, minha amiga, isso vai passar. Tenha fé em Deus, são obstáculos que você está enfrentando pra crescer, tudo vai melhorar, acredite! Imagino como está sendo difícil pra você essas situações, mas tenha calma e paciência, pois tudo volta pro lugar. Você já foi ao médico?

-- Sim, eu já fui, sou muito precavida com essas coisas; ele disse que terei de passar por uma cirurgia e que dei sorte de ter descoberto no inicio. Agora, o que me deixa mais preocupada, por incrível que pareça, é a Natália. Ela amava tanto o Ricardo, mas o cara era um galinha, só ela que não sabia; eu sempre alertei, mas ela não me ouvia, aí noivou e deu no que deu... Agora ta sem paradeiro do cara que sumiu com todo dinheiro dela. É, porque era dela o dinheiro, o cara não deu quase nada. Aí, tem homem que é foda, quando não faz na entrada, faz na saída.

-- É, infelizmente tem muitos que são assim. Mas o que você tem feito pra ajuda-la? Os pais não dão apoio?

-- Eu vou na casa dela sempre, só hoje que eu não fui; procuro conversar, dizer pra ela se acalmar, mas não adianta. A Natália toma antidepressivo forte pra dormir e ainda sim não consegue. Os pais dela quase não ficam em casa, passam o tempo todo trabalhando, nem se lembram que tem filha. Deve ser por isso que ela ta sofrendo mais, é tratada como invisível. Acredita que ela tentou se afogar na piscina?

-- Nossa!

-- Eu cheguei na hora e a tirei desacordada; depois ela se recuperou, eu dei-lhe um esporro... A Nati não tem juízo mesmo... Minha saúde é o de menos nessa história, o médico me disse pra ficar tranqüila que será uma cirurgia simples.

-- Seu namorado sabe disso?

-- O Maurício sabe do caso da Natália, mas sobre a minha doença, não.

-- Por que não conta pra ele?

-- Estou esperando a hora certa...

-- Ele é seu namorado, não tem porque esperar. Vocês estão bem?

-- Sim, estamos...

-- Você o ama?

Astride nada responde.

-- Eu perguntei. Você o ama?

-- Vamos voltar a comer?_ diz Astride, se desviando do assunto.

Os dois lancharam. Agora, Dante prestava atenção em cada movimento de Astride, ela percebia isso e procurava observar cada detalhe das análises de Dante. Caminharam deram uma volta pelo shopping, compraram um sorvete, até que Dante sugeriu:

-- E ai vamos pegar um cineminha?

-- Pode ser... Não tem nada pra fazer...

-- Obrigado por desmerecer o meu convite.

Astride dá uma gargalhada e depois aperta a bochecha de Dante.

-- Seu pentelho...

-- Ta carinhosa demais, hein? Tu nunca foi assim...

-- Sempre fui carinhosa com meus amigos, só que do meu jeito.

-- Sei... E ai vai querer ver qual filme?

-- Tanto faz...

-- Escolhe.

-- Ah, vamos ver Striker. Minhas amigas falam que é muito bom, tem muito tiro.

Os dois entram no cinema. O lugar tem poucas pessoas, dava até pra contar o número. Dante e Astride sentaram em cadeiras duplas sem divisória.

-- Essas não tem divisória._ diz Dante

-- Claro, são pra casais.

-- Bem que a gente poderia ser um, não é? _ diz Dante, mandando uma suposta indireta.

-- M1 da net... Você e suas indiretas, hein? Você sabe que tenho namorado e que sou fiel a ele.

-- Sei, sei... M1 da net é? Quero aquele meu abraço agora! E aproveita que aqui está deserto.

-- Vem cá, então.

O abraço que Dante se referia não era um “ simples “ abraço, mas sim, um abraço especial que envolvia carinho, desejo e entrega. Dante envolveu Astride em seus braços, beijou seu pescoço, pressionou seus fartos seios com suas mãos e os beijou, beijou, beijou; depois passou a língua no meio deles e pressionou seu rosto neles. E o que Astride fez? Nada, ou melhor, fez sim, ficou afagando os cabelos dele, enquanto ele realizava tal ação. Além disso, Dante tinha liberdade com Astride, ela não se incomodava dele fazer esse carinho e de um certo modo até gostava.

-- Pronto, já acabou?

-- Sim, ai, como foi bom... _ suspira Dante

-- Aposto que você ficou excitado...

-- Claro que não.

-- Ah, Dante, você me apertou contra o seu corpo, beijou o meu pescoço, apertou os meus seios, os lambeu e depois enfiou a cara neles; vai dizer que não se excitou?

-- O filme vai começar agora, vamos assistir...

Dante pegou na mão de Astride, que permitiu; ele encostou sua cabeça no ombro dela. E assim ficaram assistindo o filme sem retirarem o contato que estavam tendo. Foi uma tarde diferente pra ambos, extravasaram suas emoções e mesmo que fossem de universos um tanto diferentes, puderam sentir o calor que tanto estavam precisando.

Diogo Jovi
Enviado por Diogo Jovi em 05/03/2011
Reeditado em 05/03/2011
Código do texto: T2829475
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