Parabéns a todas nós pelo nosso dia!!!




   UMA HISTÓRIA PARA MULHERES

     "
PERSONAGEM DE
              UM NOVO ENREDO"

           
Era carnaval. As lindas fantasias naquelas meninas de corpos tão perfeitos pareciam algo surreal, algo que era quase um milagre visto assim agora do alto das suas décadas. Encolheu-se dentro do vestido leve e decotado. Olhou ao redor. Todos pareciam tão jovens e sentiu- se numa ilha separada do continente dos vivos por muitos anos, muitos carnavais. Resolveu ir embora, estava há muito tempo na rua, e sempre vivera na pressa de voltar pra casa. Pisou firme e se foi sem olhar para os lados, uma mulher madura sozinha na madrugada, pareceu-lhe estranho como se de repente caíra do seu velho mundo pra dentro de um enredo onde não se sentia à vontade, onde o seu papel era vago, indefinido. Chegando perto do estacionamento,entretanto, deu-se conta de que ninguém a esperava, que a casa estava vazia, nada havia pra fazer e tinha à disposição todo o tempo. Hestiou por uns instantes, como se trocasse idéias com outra de si, uma vez que não havia ali mais ninguém para lhe dizer o que fazer. Parece que houve consenso porque resolveu voltar. Falou com algumas meninas sobre se aquela mulher de corpo escultural seria um travesti o que foi prontamente confirmado. De repente sentiu fome. A festa já se encerrava e então voltou mais tranquila, pisando mais leve. Ao se aproximar do seu carro havia um outro pouco antes com a porta do motorista aberta e um som ensurdecedor dessa música romântica meio brega e barulhenta de agora. Passou sem olhar e quando entrou no carro percebeu um rapaz vindo na sua direção. Vinha do tal carro da porta aberta. Ele abaixou a cabeça apoiando os antebraços na janela e quase encostou seu rosto no dela sorrindo. Parecia meio alcoolizado, nada incomum nestes dias e foi logo se insinuando. Perplexa ela, que há poucos momentos antes se sentira distante do mundo dos vivos, não sabia como se encaixar neste novo quadro, estaria ela tendo alucinações?
           Era muito jovem e até bonito, e repentinamente a beijou. E novamente, e de novo. E ela para sua própria incredulidade, não se incomodou, pelo contrário, gostou e repetiu. Procurou fazer assunto para ganhar tempo e repetiu mais de uma vez  que estava mesmo indo pra casa. Ele pediu seu telefone. Depois pra ir ao motel, que ele pagava. Ficou pensando então que atualmente as mulheres também pagam a conta, inclusive nestes casos.  E que o homem dizer que paga pode nos dias de hoje,  o que em outros tempos era a praxe, significar uma grande deferência, uma forma de prestigiar. Riu-se do pensamento. Aí ela lhe disse que outro dia ele nem lembraria mais de nada, mas no fundo querendo por demais que ele lembrasse como se tal ninharia representasse o seu passaporte para um mundo que já lhe parecia sonegado.  Quando finalmente a mulher conseguiu fazer com que ele se fosse, seguiu pra casa se sentindo uma nova pessoa, uma mulher desejada, e se viu como nunca, alguém pertencendo ao mundo dos vivos e felizes do planeta.



tania orsi vargas
Enviado por tania orsi vargas em 08/03/2011
Reeditado em 15/06/2011
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