Manhã
Acordou com o frescor de uma brisa suave que invadia a janela do quarto e tocava de leve seu rosto. Espreguiçou-se, bocejou, levantou da cama e calçou suas pantufas cor-de-rosa. Foi até o banheiro, fez sua higiene matinal e pediu o café da manhã pelo telefone. Sentou-se na poltrona e leu algumas páginas de seu romance enquanto esperava a refeição. Era uma bela manhã, pensou. Mais um lindo dia... A camareira chegou minutos depois. Ela agradeceu com um sorriso, sentou-se e comeu tranquilamente, saboreando o desjejum.
Aquele lugar lhe trazia muitas lembranças... Sua primeira viagem, sua primeira paixão... E como era tudo tão bonito, a cidade, ele, ela mesma! Quantos sonhos, quanta vitalidade naquela época! Não que pudesse se queixar agora. Era uma elegante e simpática senhora, viajada, conhecedora de mundos e almas. Seu marido a deixara muito bem financeiramente, seu querido marido... Tudo o que esperava no momento era poder usufruir de uma velhice confortável e despreocupada. Não tinha mais nada a perder. Entregava-se a seus passatempos sem medo nem restrições. Comia o que quisesse, comprava o que gostasse, ia de hotel para hotel em qualquer lugar que lhe agradasse!
Amava sua família, sem dúvida. Seus filhos e netos eram adoráveis com ela, mas tinham suas próprias vidas e ela não queria incomodar. Visitava-os com regularidade e ajudava no que fosse preciso. Perguntavam se não seria perigoso ou desconfortável para ela viver sozinha, vagando por aí... Mas ela estava muito bem assim. Gostava de recordar o passado, às vezes entregava-se a melancolias e às saudades de seu amado marido... Tiveram bons e maus momentos, como todo casal. Eram felizes a seu modo e construíram uma bela família. Sim, ela tinha muito do que se orgulhar... Escrevera uma interessante história, com altos e baixos, acertos e erros. E agora, agora só queria descansar. Queria a paz de suas manhãs solitárias, manhãs como aquela... E se perguntava por que a vida deveria ser mais do que isso.