Recomeço

Mel, aquela garota fútil e popular, sorriu ao pensar no caminho tortuoso que sua história assumira.

Jamais pensou estar sozinha, mas, estranhamente, sentia-se bem, gostava do silêncio ao seu redor. Os únicos sons vinham das lembranças da vida animada de outrora.

Olhou seu corpo magro e abatido sentado, praticamente jogado, sobre a poltrona da sala e não viu mais as belas pernas e os seios fartos que faziam os garotos suspirar. Aquele corpo que estava ali tinha marcas, sinais de um sofrimento profundo.

Mas Mel estava feliz. Contrariando tudo o que sempre valorizou, aquela situação em que se encontrava trouxera tranqüilidade, paz de espírito.

Sobreviver a uma doença letal não tinha sido fácil. Lutar contra inimigos invisíveis era muito difícil.

Quando foi diagnosticada, negou. Ela era humana afinal de contas. Jamais imaginou que sendo atleta, de alimentação regrada e hábitos saudáveis seria atingida por qualquer coisa, quem dirá uma moléstia mortal.

Mas ela brigou, lutou com as armas que lhe foram ofertadas, dedicou-se ao tratamento, refez sua trajetória e estava ali.

Curada, otimista e....... sozinha.

Quando descobriram que estava doente todos a abandonaram, continuaram suas vidas, não tinham tempo para uma moribunda, ou talvez, não quisessem ter.

Mas Mel não ligava mais. Mesmo. Não guardava mágoa, afinal, ela também fora assim um dia, aquilo era natural, era “humano”.

Ironicamente agradeceu pela enfermidade que quase levou sua vida, para uma coisa certamente ela tinha servido, para fazê-la entender que a vida é mais profunda, é mais real do que ela imaginava. E aquilo tinha sido bom.

No seu antigo mundinho cor de rosa não havia espaço para sofrimentos reais, só para aqueles imaginados, mas agora sabe que são só os reais que existem.

Pronta para o recomeço, para novas batalhas, escorregou seu corpo pela poltrona, forçando os músculos que ainda trabalhavam, depositou o corpo e depois as pernas inertes na cadeira que a levaria à sua antiga escola, apanhou os livros e seguiu, sua vida continuava, ela ainda tinha muito que aprender.

Elayne Sampaio
Enviado por Elayne Sampaio em 21/04/2011
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