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YOKO
 
                                                                                             
-- Yoko... Yoko! Japa!
 
Ele descia as escadas, salteando degraus e chamando a nissei que descia mais à frente. A moça distraída, nem percebeu que era com ela. De repente, ele a pega do braço.
 
-- Espera, Yoko.
 
-- Yoko? Ih, nada a ver. Meu nome é Kátia.
 
-- Eu sou o João Thomaz.
 
 
Foi depois da primeira aula no cursinho. Desde então, nunca mais se separaram. Passaram no vestibular, estudaram na mesma universidade, cursaram juntos uma pós-graduação, sempre apaixonados. Por fim, se casaram.
 
Ele brincava, eu John, tu Yoko. Dedilhava o violão e cantava canções dos Beatles pra ela.
Ela replicava: Ih, nada a ver, mas como John e Yoko, viviam felizes.
 
Passados cinco anos, ele já não cantava. Ele andava tão desafinado,  que ela nem reclamou. A vida passava corrida, cada um com seus compromissos profissionais, viajavam muito.

Certo dia, Kátia voltou antes de uma viagem e, logo que abriu a porta, escutou vozes no banheiro. João tomava banho com uma mulher e cantava Imagine para ela, afinado, como há muito não cantava... No quarto, a cama desarrumada, roupas displicentemente jogadas.
Nem desfez as malas, sem uma palavra, rumou para um hotel.
E, finalmente, ela se sentia Yoko, para sempre sem John Lennon.


N.A.:
Conto publicado no livro NEM TODAS AS PALAVRAS... 2010, Editora Nova Prova, Porto Alegre/RS.


 
 
Tânia Alvariz
Enviado por Tânia Alvariz em 12/05/2011
Reeditado em 12/05/2011
Código do texto: T2964615
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