Sobre a Penteadeira...

Chegou correndo ao quarto, perdeu a hora apesar do insistente apelo do alarme do relógio pontual.

Se despiu lentamente,abriu o chuveiro morno e se deixou ficar lavando o corpo e a alma.

Sentia a água sobre os cabelos, descendo suavemente entre uma carícia e outra de uma gota mais ousada que deslizava pela corpo.

Em fração de segundos (re)pensou em sua vida, nas alegrias e nas doloridas horas, nas lágrimas mornas e nas risadas quentes, no silencioso grito e na alucinada gritaria do silêncio.

Era estranho, parecia desejar tirar de sua alma as impregnadas lembranças da vida,mas havia uma pergunta que não se calava: água e sabonete, lavam também as marcas da ocultada essência do ser?

Não sabe ao certo por quanto tempo se deixou afogar para renascer naquele/daquele banho.

Desligou a água, começou a enxugar o corpo, desembaraçar os longos cabelos e quem sabe os pensamentos emaranhados pelas lembranças a serem perpetuadas em esquecimento.

Se vestiu, colocou umas gotas de perfume e saiu, apressada.

Já na rua, em meio a vida corriqueira inflada de cotidiano,deu por falta de uma coisa banal,mas que estava naquele momento fazendo a diferença: não havia visto em seu rosto o sorriso, ainda que desbotado e desalinhado.

Lembrou-se então que havia esquecido desse item que juntava a discreta maquiagem antes de sair de casa...

... deixou seu sorriso junto com a sua alma em um pequeno frasco sobre a penteadeira.

Márcia Barcelos.

30/05/2011.

Márcia Barcelos
Enviado por Márcia Barcelos em 30/05/2011
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