ACENDEU O ÚLTIMO CIGARRO...
Acendeu o último cigarro do maço, abriu o portão e saiu pra rua. Não disse a ninguém aonde ia, nem disse a que horas voltaria. A tabacaria estava fechada. O bar também. Pelo menos o bar que costumava freqüentar.
A rua estreita e pouco iluminada, àquela hora já estava deserta. Caminhava sem pressa, sabia que não tinha hora marcada. Talvez tivesse.
Foi descendo a ladeira. Muito silêncio. Naquele trecho onde passava agora, a rua era uma mistura de pó, pedra e uns poucos sinais do que fora uma imitação de asfalto. Culpa da chuva que estraga tudo e do mau tempo que não deixa consertar. Ao lado corria o esgoto a céu aberto. Uma boa parte da sujeira do mundo, pelo menos daquele mundo, passava ali. Começava a soprar um vento mais frio agora. Já era primavera, mas à noite o friozinho do inverno insistia em aparecer. Fechou o moleton, cobriu a cabeça e apertou os braços contra o peito no instinto de se proteger. Sentiu a falta do cigarro. Ah! como sentiu!
De repente um frio percorreu-lhe a espinha, o estômago se contraiu. Um movimento inesperado fez seu coração disparar.
Do capim alto que margeava o córrego saiu uma pacífica ratazana. Por certo conseguia ali na sujeira do mundo, alimento farto para si e para os seus.
Apenas um susto.
A rua estreita e escura ficara para trás. Agora a noite não parecia mais tão escura, disfarçada pelas luzes artificiais de postes e carros.
Tudo perfeito. Sentia-se bem. Porém...
Sentiu novamente o coração disparar, o estômago se contrair e um arrepio por todo o corpo.
Ah! se fosse mais uma ratazana! Não, esses pequenos roedores não conseguem carregar objeto pesado e brilhante! Nem mil ratazanas juntas, fariam tanto mal!
Não disse a ninguém aonde ia... Não tinha nada marcado... não chegou a lugar algum.
No bolso, uma caixa de fósforos e um bilhetinho amassado dizendo: “Venha me encontrar HOJE”.