Boa noite

- Boa noite – a voz doce chegou aos ouvidos dele, ele gostava de ouvir aquela voz, era tão mágica, não imaginava um ser que não teria uma boa noite após aquele cumprimento, naquela voz, era tudo que alguém poderia desejar, apenas aquela doce voz, ao lado, na cama, suspirando quando ele abraçasse, e dizendo “te amo, eu te amo”, ele sonhava com isso, todas as noites, aquela mesma voz dizendo que o amava, suspirando desejo nos ouvidos dele, implorando por um pouco mais, gemendo enquanto eles faziam amor, era sua fantasia, a voz, ele fantasiava com uma voz, era tudo que ele precisava, aquela voz perfeita, tão divina, tão simples e o mesmo tempo sofisticada, ao pé do ouvido dizendo “acorda amor” e ele levantaria, feliz, sem se preocupar ou se angustiar, porque era aquele voz que o acordou, então ele tomaria banho com ela junto, rindo e dizendo “...não amor, tenho que fazer o café, me deixa sair” e ele não deixaria, eles terminariam o banho juntos sem se preocupar, então depois ela faria o café, doce e forte demais para o gosto dele, mas ele não iria reclamar pois foi aquela voz que fez, então que importância tinha o gosto?, ele tomaria mesmo que tivesse gosto de chinelo velho, então ele sairia para trabalhar, depois de um longo e úmido beijo, e de palavras como “te espero para o jantar amor”, “não demora, amor” ou simplesmente, “te amo, vou estar aqui te esperando”, e ele iria, feliz, porque ouviu aquelas palavras daquela voz, então trabalharia a tarde inteira, seria doutor, não sabia muito bem ao certo que tipo de doutor, mas seria doutor, apenas por ser, ele gostava do titulo, almoçaria rápido, e arranjaria tempo para ligar para ela no meio da tarde, “eu estou morrendo de saudades suas” ela diria, “volta logo, quero te ver meu amor” e ele trabalharia o resto da tarde feliz, porque ela o amaria, então quando chegasse o fim do turno ele sairia correndo, estaria chovendo, e ele preferiria ir a pé até casa, não queria pegar engarrafamento para ver a amada, passaria em uma floricultura que ficaria aberta até tarde e compraria a rosa mais bonita, chegaria em casa totalmente molhado e ela estaria esperando por ele na porta, então a abraçaria e a jogaria no sofá, a embolaria ali mesmo, para ficar mais perto, ele daria a rosa, e ela sorriria, e agradeceria, “ah amor, você é tão atencioso, te amo tanto”, e eles fariam amor ali mesmo, como loucos, como apaixonados, ele não via diferença, depois, suados e respirando com dificuldade comeriam qualquer coisa, e fariam mor de novo, e de novo, e acabariam dormindo na sala mesmo, até que no meio da noite, na voz doce e suave dela, ela falaria, “amor, vamos para a cama”, e os dois dormiriam agarrados, um no outro, como um apenas, e ele seria feliz, porque ele a tinha, ali só para ele. Mas por enquanto ela continuaria lá, na televisão do botequim, dando as notícias do dia e esperando por ele, e ele ali, no sinaleiro, vendendo bala e pedindo uns trocados aos carros que um dia ele teria, para ela, só para ela.

Amanda França
Enviado por Amanda França em 26/07/2011
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