A Revolta das Baratas

Olhei pela janela do meu gabinete, a calmaria era completa, mas diferente, era aquela calmaria que antecedia a guerra. Meu assistente entrou apressado, com os pulmões na garganta, “Estão chegando!”, falou ele com a voz pálida, olhei novamente pela janela, a calmaria ainda tomava conta do lugar, meu assistente continuava a me olhar com olhos apavorados, “O que pretende fazer, senhor presidente?”, ele já havia recuperado um pouco do fôlego, mas mantinha a voz pálida, eu percebia o medo nos movimentos dele, lentos e desesperados, “O que diz o ministro?”, me surpreendi com a calma na minha voz, mesmo no meio daquilo que em dois dias havia se tornado uma guerra civil, “Ele pediu que viesse consultá-lo, senhor”, disse ele se recompondo por completo, “O exército está pronto?”, perguntei, não me importava se era a coisa certa a fazer, mas se fosse manter minha cabeça grudada no pescoço, valeria a pena, “Sim, senhor presidente”, afirmou ele, “Que seja, diga para segurá-los de qualquer maneira, não quero enxergar nem mesmo a cor daquelas pragas”, falei dispensando-o.

Voltei a olhar pela janela, eu sabia que estava cercado, não poderia fugir, se o exército não os segurasse, cabeças rolariam, uma em especial, a minha.

Passaram-se alguns minutos, ou horas, não contei o tempo, e logo apareceu o primeiro, seguido por uma corja de seres como ele, todos em suas “armaduras” de tecidos rasgados cor de lodo, o exército segurou alguns, mesmo com o pouco tempo que tiveram se preparando, mas eram muitos, e os que escaparam invadiram o Palácio.

Não demorou para minha porta ser derrubada. Diante de mim aquele ser asqueroso, parecia jovem, mas trazia no rosto mais marcas que acumulei em uma vida inteira... trazia uma faca em uma mão e uma bandeira vermelho-sangue na outra, com alguns dizeres que não pude ler. Ele se aproximou e pude sentir o cheiro de podridão vindo dele, “Pense bem, senhor presidente, uma vida por cem milhões”.